Título: Esquema é semelhante ao dos anões do orçamento, investigado por CPI em 93
Autor: João Domingos e Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Nacional, p. A4

As fraudes ontem reveladas pela Operação Sanguessuga repetem, em sua essência, as que vieram à tona durante a célebre CPI que investigou os "anões do orçamento", entre 1993 e 94. Como as de hoje, as dos anos 90 consistiam em destinar dinheiro do orçamento para emendas aparentemente inocentes. Verbas para ajudar escolas, fundações beneficentes e associações culturais eram aprovadas - às vezes, quando a versão final do orçamento já tinha sido votada. Em seguida o dinheiro seguia, silenciosamente, para a conta bancária dos parlamentares.

A diferença é que a CPI do Orçamento foi bem mais sofisticada: o comandante do esquema era o próprio presidente da Comissão Mista do Orçamento, o então deputado João Alves (sem partido-BA). Seu auxiliar direto na operação era outro parlamentar veterano, o maranhense Cid Carvalho (PMDB) e os beneficiários eram mais diversificados. Em comum, o objetivo final da operação: desviar para uso privado um volume de recursos que chegou a dezenas de milhões de dólares.

O escândalo veio a público quando o País começava a se recuperar do impeachment do presidente Fernando Collor. Ao final de três meses de trabalho, presidida por Benito Gama (PMDB-BA) e relatada por Roberto Magalhães (PFL-PE), a CPI propôs o indiciamento de 17 deputados e 1 senador. Seis foram cassados, 4 renunciaram e 8 foram absolvidos.

Enquanto o esquema funcionou, o mentor da operação, o próprio João Alves, remeteu cerca de US$ 53 milhões para diferentes "projetos" de seus currais eleitorais na Bahia. Na verdade, tudo ia para as suas contas bancárias. Ele sustentava, para explicar tamanha fortuna, que havia ganhado na loteria cerca de cem vezes.

Seu imediato Cid Carvalho "ajudou" uma fundação de Imperatriz, no Maranhão, também sua base eleitoral. Carlos Benevides (PMDB-CE) fez o mesmo com US$ 3,2 milhões durante cinco anos. Entre outros casos revelados pela CPI estava o de um político fluminense, Fábio Raunheitti, que mandou US$ 14,9 milhões para faculdades particulares dele mesmo, no Rio; e a deputada Raquel Cândido criou uma associação em Goiás para a qual mandou cerca de US$ 800 mil.