Título: Renan abre Planalto a líderes da oposição
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Nacional, p. A10

A curta interinidade na Presidência da República serviu para que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), abrisse ontem as portas do Palácio do Planalto a representantes da oposição. Durante as cerca de 12 horas em que ocupou o lugar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viajara à Argentina, Renan recebeu no gabinete do titular os senadores Arthur Virgílio (AM) e José Agripino (RN), líderes respectivamente do PSDB e do PFL.

Foi mais um gesto de Renan para demontrar contrariedade com Lula. Na véspera, ao se recusar a fazer parte da comitiva que iria à Argentina, o senador frustara o plano do governo de entregar à presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, o comando interino da República. Tudo isso porque está chateado com o fato de o governo ter aberto um canal de negociação com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), na tentativa de fechar uma aliança na campanha pela reeleição de Lula. Renan quis deixar claro que faz questão de ser o principal interlocutor do partido com o Planalto.

O presidente do Senado é o terceiro na linha sucessória de Lula, atrás do vice-presidente José Alencar e do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Se um dos dois assumir a Presidência da República menos de seis meses antes da eleição, fica impedido de concorrer. Como ambos pretendem se candidatar, preferiram sair do País. A idéia do Planalto era que Renan viajasse à Argentina para que Ellen Gracie se tornasse a primeira mulher a comandar o País, mesmo interinamente.

"Esta coisa de assumir ou não a Presidência não é a gente que decide", disse Renan. "É uma conseqüência. Como não sou candidato, meu dever funcional era assumir a Presidência", declarou o senador ontem cedo, logo que Lula transmitiu-lhe o cargo. Mais tarde, no Planalto, ele disse bem-humorado que, se pudesse, "se convidaria" todos os dias para assumir o posto de Lula. E acrescentou que aproveitaria a "rapidíssima interinidade" para exercitar as boas relações que mantém com os líderes dos vários partidos no Senado, todos convidados a visitá-lo no gabinete.

Na chegada ao gabinete presidencial, a primeira providência de Renan foi acabar com o bloqueio aos telefones celulares no terceiro andar do Planalto, para que pudesse continuar recebendo e atendendo as chamadas em seu aparelho.