Título: Chávez retira embaixador do Peru
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Internacional, p. A19

Em mais uma escalada da tensão entre os dois países, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou na noite de quarta-feira a retirada de seu embaixador do Peru. O anúncio se seguiu à decisão do governo peruano de chamar a Lima seu embaixador em Caracas no sábado.

Antes de embarcar para a Venezuela, o embaixador venezuelano, Cruz Manuel Martínez, disse ontem esperar que esse seja o ¿último capítulo¿ da crise, pois não houve ruptura diplomática formal entre Peru e Venezuela. Já Chávez afirmou ser ¿o seu direito¿ exigir a volta do embaixador.

Na quarta-feira, em uma tumultuada sessão do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), Chávez foi denunciado por comportamento ¿impróprio¿ de interferência nas eleições do Peru. Ele teria violado a Carta Democrática Interamericana quando disse, em 28 de abril, que se Alan García, candidato da Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA), fosse eleito, ele romperia relações com o Peru.

Como parte da defesa de Chávez, o representante da Venezuela na reunião da OEA, Jorge Valero, defendeu o direito ¿legítimo de responder às agressões¿ do líder venezuelano. A OEA decidiu não se pronunciar sobre a disputa entre os dois países ao final da reunião de ontem, em Washington.

GUERRA VERBAL

Chávez não se preocupa em esconder sua preferência pelo candidato nacionalista Ollanta Humala, da União pelo Peru. Em 3 de janeiro, recebeu Humala em Caracas de forma calorosa. Mas o presidente venezuelano não se restringe a dizer em quem votaria se fosse eleitor peruano. Na semana passada, criticou o Peru por assinar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Foi a partir dessa declaração que a última crise tomou corpo. García, que disputa o segundo turno das eleições presidenciais com Humala em 4 de junho, decidiu se pronunciar, destacando a incoerência de Chávez, que critica o Peru, mas ganha milhões de dólares com a venda de petróleo para o mercado americano. García foi além e chamou o presidente venezuelano de ¿sem-vergonha¿.

A resposta de Chávez não tardou e veio na sexta-feira no mesmo nível. Chamou García de ¿canalha e ladrão¿. Essa declaração acabou trazendo o presidente peruano, Alejandro Toledo, para a crise. Toledo acusou Chávez de intromissão em assuntos internos e pediu sua cooperação. Não satisfeito com o barulho já causado até então, Chávez voltou à carga no sábado, dizendo que García e Toledo eram ¿jacarés do mesmo poço¿. A resposta de Toledo foi retirar o seu embaixador de Caracas.

'SEM PADRINHOS¿

Ontem Ollanta Humala condenou a interferência de Chávez nas eleições do Peru e negou que ele seja seu padrinho. ¿Deploro e condeno essa ingerência. Não tenho nada a ver com o presidente Chávez¿, assegurou. Humala disse, porém, que o comportamento do governo venezuelano ocorreu por causa ¿das provocações¿ de seu adversário na disputa presidencial.

A campanha oficial para o segundo turno das eleições peruanas começou ontem.

O presidente Toledo disse segunda-feira que espera encontrar Chávez para ¿tomar um café¿, em Viena. No dia 11, a cidade austríaca sediará um encontro para discutir a integração da América Latina e da União Européia.