Título: Bolivianos ainda não definiram novos preços para as remessas de gás
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

A Bolívia ainda não estabeleceu um novo preço para o gás natural exportado para o Brasil, informou ontem uma alta fonte da Petrobrás, e a empresa trabalha com a hipótese de que isso não ocorrerá no curto prazo. A estatal brasileira ainda tem de ser notificada oficialmente da intenção da Bolívia e depois terá prazo de 45 dias, previsto em contrato, para negociar a mudança. Passado esse prazo, a discussão poderia ir então para a arbitragem internacional.

"Não é o momento de discutir essa questão agora", disse a fonte. Para ele, não há margem para negociar o aumento e a Bolívia sabe disso - "tanto que está acusando a Petrobrás de chantagem". Segundo a fonte, hoje a produção de gás natural na Bolívia, que é associado ao óleo, praticamente subsidia os demais derivados de petróleo que atendem o mercado boliviano.

Os preços de gasolina, diesel e GLP na Bolívia não estão atrelados aos do mercado internacional; portanto, não teriam como pagar sua produção. Com isso, o custo de produção do gás na Bolívia - já considerando o subsídio ao óleo - corresponde à metade da remuneração obtida com a venda para o Brasil. "Ou seja, se colocamos sobre esse valor taxas de mais 82%, a operação se torna inviável e fica mais fácil entregar o campo para a Bolívia."

A mesma fonte, entretanto, diz que esse também não é o caso no momento. "Podemos chegar a esse cenário no desenrolar da situação e aí a Bolívia terá de rever suas exigências e a intenção de elevar os preços, porque não tem como operar sozinha seus próprios campos." A fonte descarta a possibilidade de técnicos da PDVSA assumirem os campos bolivianos abandonados pelas empresas estrangeiras, entre elas a Petrobrás.

"O grande erro da Bolívia foi ter privatizado tudo integralmente no passado, porque as empresas multinacionais entraram no país com seus próprios técnicos, mão-de-obra especializada e sua própria tecnologia. Hoje, só a Petrobras pode operar seus campos e a Bolívia sabe disso", afirmou.