Título: 'Evo Morales e Lula terão de aprender a conviver'
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

William Ramsey, vice-diretor-executivo da AIE

A Agência Internacional de Energia (AIE) fez um alerta: os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o boliviano Evo Morales terão de aprender a conviver. O vice-diretor-executivo da AIE, William Ramsey, afirmou que um entendimento político entre os líderes é fundamental para que empresas possam investir e para que as economias dos dois países não sofram um desabastecimento energético. ¿Nenhum dos dois países (Brasil e Bolívia) tem alternativas. Um casamento pode não ser sempre bom, mas nesse caso o divórcio é impensável¿, disse Ramsey, que já foi o responsável do Departamento de Estado americano para questões energéticas e hoje é o responsável na AIE pela América do Sul. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual é o papel que os líderes da América do Sul precisam adotar para solucionar crise criada com a decisão da Bolívia? Os líderes precisam estabelecer um quadro político claro de como ocorrerá a integração energética da região. Sem um entendimento político, não há como as empresas atuarem e planejarem investimentos. A Petrobrás anunciou que poderia desistir de seus investimentos na Bolívia? O senhor acredita que a empresa tenha a intenção de seguir esse caminho? Essa é uma reação natural de uma empresa que vinha atuando numa situação de normalidade e dentro de regras que funcionavam. Mas e a Bolívia? O governo de Evo pode ficar sem a Petrobrás? Acredito que a Bolívia não terá a mesma capacidade de exportar seu gás sem a cooperação das empresas estrangeiras. A Bolívia não vai usar seu gás só para o consumo interno. Precisa de clientes e, portanto, vai precisar em algum momento manter uma boa relação também com a Petrobrás por seu interesse. Evo Morales insiste que os royalties pagos pela Petrobrás não eram justos? O senhor concorda com essa avaliação? Não há uma definição do que é justo. A Petrobrás precisa de retorno para seus investimentos e, se isso não ocorrer, também seria injusto para a empresa. Acredito que o gás seja um produto com valor no mercado internacional suficiente para gerar benefícios a todos os envolvidos. Tanto os bolivianos como a Petrobrás. Então como Lula e Evo Morales podem solucionar essa crise? Precisam aprender a conviver um com o outro. Não se pode mudar a fronteira entre os dois países. A cooperação energética é sempre a melhor saída. Nenhum dos dois países (Brasil e Bolívia) tem alternativas. Um casamento pode não ser sempre bom, mas nesse caso o divórcio é impensável. Mas o senhor acha que o Brasil terá de pensar numa maior diversificação do consumo de energia? Talvez essa seja a conseqüência positiva de toda essa história, até com o maior desenvolvimento do gás brasileiro. Qual impacto que a decisão de Evo Morales teve nos países ricos? A decisão pode ser negativa para a imagem de toda a Américo do Sul, pois nem todos no exterior diferenciam as lideranças da região.