Título: PDVSA inicia ofensiva em La Paz
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

Enquanto as outras companhias de petróleo estrangeiras estão em dúvida sobre se continuam ou não na Bolívia, a Petróleos de Venezuela (PDVSA), a estatal petrolífera sob o comando do presidente venezuelano, Hugo Chávez, está abrindo um escritório de representação em La Paz. Embora até a semana passada a PDVSA não tivesse nenhum negócio na Bolívia, o escritório começou a ser montado há cerca de um mês.

A sede boliviana ainda não tem o quadro de funcionários completo. Ocupa uma mansão no elegante bairro de Sopocachi, sul de La Paz, e apenas uma pequena placa, atrás dos portões de ferro, identifica o imóvel como escritório da PDVSA.

O segurança do local advertiu o repórter do Estado que não havia nenhum funcionário graduado no interior do casarão que estivesse autorizado para dar entrevistas. Uma funcionária boliviana, que se identificou apenas como Alejandra, repetiu a advertência. Mas não se furtou a defender a instalação da empresa em La Paz.

"A PDVSA é uma empresa forte, com presença em vários países, incluindo os Estados Unidos. Por que não poderia ter uma sede aqui?", disse. "Por enquanto, não temos nenhum negócio na Bolívia, mas passaremos a ter no dia 18, quando a PDVSA e a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) vão assinar um acordo para a exploração de gás e petróleo e outros projetos aqui."

O anúncio da aliança foi feito por Chávez na quarta-feira à noite, em La Paz, durante encontro com o presidente boliviano, Evo Morales. Segundo Chávez, outro passo do acordo será a instalação, pela PDVSA, de uma usina de separação de gás e outros líquidos em Villamonte. "Este é o verdadeiro segredo do desenvolvimento: agregar valor à matéria-prima."

O repentino crescimento da presença da PDVSA na Bolívia alimenta as suspeitas de que o governo venezuelano esteve por trás da decisão de Evo de nacionalizar radicalmente toda a produção de gás e petróleo do país. De acordo com essas especulações Evo sentiu-se à vontade para desafiar a Petrobrás, a espanhola Repsol, a argentina YPF e outras companhias estrangeiras que estavam instaladas na Bolívia porque Chávez lhe teria garantido que técnicos da PDVSA substituiriam os das multinacionais, caso elas resolvessem abandonar o país.

A YPFB, a estatal boliviana encarregada de controlar todo o processo do negócio de petróleo e gás, é uma empresa sucateada e não tem funcionários capazes de operar a produção. Em várias ocasiões, a PDVSA foi citada por Evo como o exemplo que a YPFB deve seguir para recuperar-se. "Há nove anos, a PDVSA passava por uma situação parecida com a da YPFB", disse Evo na quarta-feira. "Com investimento em capacitação de pessoal, hoje é uma gigante que disputa mercado com as grandes companhias estrangeiras."

AJUDA A Venezuela vai ajudar a Bolívia no processo de nacionalização. Segundo o ministro de Energia da Venezuela, Rafael Ramirez, técnicos venezuelanos serão enviados ao país para auditar as reservas de gás e os ativos das companhias que atuam no país. O ministro do Exterior, Ali Rodriguez, informou que o governo boliviano pediu ajuda para reativar a indústria de hidrocarbonetos, "e nós estamos prontos para atender".