Título: 'Petrobrás não chantageou'
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Economia & Negócios, p. B9

Embora o presidente Evo Morales tenha dito que a Petrobrás fazia "chantagem" contra a Bolívia ao dizer que iria suspender novos investimentos no país, o presidente da subsidiária local da empresa, José Fernando de Freitas, preferiu reagir com o máximo de elegância que a diplomacia dos negócios permite.

"Esse termo é impreciso", disse ele ontem, em entrevista coletiva em Santa Cruz de La Sierra.

"O (presidente da Petrobrás Sergio) Gabrielli já explicou que se trata de uma análise econômica. A empresa não vai colocar investimentos onde não há retorno esperado nem segurança para se administrar o negócio."

Setenta e duas horas depois do decreto que nacionalizou o gás e o petróleo, a Petrobrás Bolívia avalia o prejuízo. A produção não foi afetada e os funcionários continuam trabalhando em ritmo normal.

Freitas contou que um executivo enviado pela estatal boliviana YPFB para assumir as funções de co-administrador da refinaria de Cochabamba foi mandado de volta para casa porque a Petrobrás considerou que ele não tinha credenciais para assumir a função.

"Ele fora apontado por um funcionário de terceiro escalão da YPFB, quando uma determinação dessas envolve uma decisão de acionistas", explica.

NA JUSTIÇA Logo depois do decreto de nacionalização, o governo boliviano divulgou a versão de que a Petrobrás estava de acordo com a medida, que vai implicar uma considerável perda de receitas para seus cofres.

Freitas esclareceu que a empresa brasileira enviou uma carta para o governo Evo Morales, onde deixa claro que "acatamos a determinação, até porque não poderíamos agir de outra forma". "Mas também esclarecemos que nos reservamos o direito de nos defender na Justiça contra qualquer medida que for avaliada como incorreta."

Antes do decreto, a Petrobrás havia preparado uma campanha de publicidade, para festejar dez anos de presença no país. "Tivemos de cancelar," admite Freitas. "Poderia parecer provocação."