Título: Exército intervém em manifestações
Autor: João Naves
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Economia & Negócios, p. B9

O exército boliviano está de prontidão na fronteira de Arroyo Concépcion com a cidade de Corumbá, no pantanal de Mato Grosso do Sul, para evitar novos confrontos entre bolivianos que estão a favor e contra a permanência da siderúrgica brasileira MMX em Puerto Suárez, vizinha de Arroyo Concépcion. As tropas chegaram ao local no início da tarde de ontem com cerca de 80 soldados fortemente armados.

Na quarta-feira, por volta de 19 horas, houve enfrentamento entre os manifestantes, com chutes, socos, pedradas, cacetadas, tiros e até explosões de fogos de artifícios. Um grupo de 120 bolivianos se refugiou no prédio da Receita Federal do Brasil, onde passou a noite depois de ser expulso da Bolívia. A fuga permitiu que eles tomassem posição de ataque no lado brasileiro e recebessem reforços de outros manifestantes.

Durante todo o dia de ontem tentaram bloquear novamente a fronteira, num vaivém que agitou a região. São na maioria trabalhadores demitidos da siderúrgica brasileira EBX, expulsa do país vizinho por determinação do presidente Evo Morales. Do lado boliviano, ficaram os comerciantes que conseguiram romper a barreira dos que protestavam a favor da EBX e liberar a fronteira. A troca de insultos obrigou o reforço na segurança.

"É boliviano contra boliviano", comentou o presidente da associação dos bairros de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro, Marco Antonio Alcorce. Ele disse que, ao chegarem à região bloqueada, os comerciantes foram recebidos a tiros, pedras e paus. "Quem está à frente dos protestos é um pessoal de Puerto Suárez que é financiado pela EBX e não o povo fronteiriço, que vive do comércio e não faz parte da siderúrgica."

Desde 28 de abril, os comitês cívicos dos municípios de Arroyo Concépcion, Puerto Quijarro, Puerto Suárez e El Carmen Rivero Torres faziam bloqueios que impediam o cruzamento da faixa fronteiriça. Também interditaram estradas, ferrovias, o aeroporto e o comércio da região em defesa da criação e manutenção dos postos de trabalho fechados. Essas ações foram denominadas de "paro cívico", que segundo o presidente do Comitê Cívico de Puerto Suárez, Edil Gericke, vai continuar, apesar do conflito da quarta-feira. "Essa agressão já estava prevista. O que precisa é não deixar ocorrer o esvaziamento", diz Gericke, que já pediu asilo político ao Brasil.