Título: Chávez vence Lula, diz 'Economist'
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Economia & Negócios, p. B9

A revista The Economist afirma que a nacionalização do setor de gás na Bolívia parece ter representado "uma vitória para os planos regionais de Chávez (Hugo Chávez, presidente da Venezuela) e uma derrota para os do presidente Luiz Inácio Lula da Silva".

Segundo a publicação britânica, a estratégia de Chávez colide com a do Brasil. O plano do líder venezuelano é construir uma aliança contra os Estados Unidos, liderada por ele e baseada principalmente no controle e distribuição de energia. A ambição brasileira é liderar uma América do Sul unida pelo comércio e cooperação entre a Comunidade Andina e o Mercosul.

"Convidada pelo Brasil, a Venezuela está negociando sua plena aderência ao Mercosul. Ainda assim Chávez está causando problema naquele grupo", observou a revista. "Se o Mercosul tiver de morrer para alguma coisa melhor emergir, que seja assim, disse ele num encontro com dois presidentes do bloco no mês passado."

Segundo a Economist, a resposta de Lula à decisão do presidente boliviano Evo Morales de nacionalizar a indústria de gás foi "conciliatória". Lula convidou Evo, Chávez e o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, para um encontro de emergência. "Mas a aliança da Bolívia com a Venezuela, e sua pressão contra a Petrobrás, representa claramente uma esnobada para o Brasil", disse a revista.

Evo poderá ainda reverter para um trajeto mais pragmático, observa a Economist. "Mas sua aliança com Chávez e Fidel Castro, mais até do que a nacionalização, envia um sinal errado que a Bolívia pode estar retrocedendo rumo ao nacionalismo estatizador."

Em Caracas, um ex-representante da Venezuela na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Eli Habalian, disse que Chávez quer "tirar proveito da medida boliviana porque o único caminho para realizar seu projeto bolivariano é o caminho energético".

Segundo o ex-presidente da Shell e da Exxon na Venezuela Alberto Quiroz Corradi, "o objetivo de Chávez é uma integração energética, mas antes é preciso resolver as contradições entre os interesses nacionais e os planos de integração".

O Brasil vai tentar defender sua liderança na região, prevê Habalian. "Lula não vai pôr a ideologia de esquerda antes dos interesses nacionais afetados pela decisão da Bolívia". Ele explicou: "Lula está no comando de uma potência e não pode agir como Chávez, está obrigado a cuidar dos interesses geopolíticos do Brasil, que tem a pretensão de ser líder na América do Sul".