Título: EUA vão cortar tarifa de importação
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Economia & Negócios, p. B10

O presidente George W. Bush disse ontem a um grupo de congressistas que apóia o esforço iniciado por vários deles para reduzir as barreiras à importação do etanol nos Estados Unidos. Nas últimas semanas, vários analistas recomendaram a suspensão da tarifa de 54 centavos por galão de 3,7 litros para permitir a substituição do MTBE - usado atualmente como adititivo para aumentar a octanagem da gasolina - pelo etanol, como mandam as normas ambientais adotadas pela administração.

O forte aumento do petróleo e o impacto no bolso dos americanos reabriram o debate sobre a necessidade de ampliar as fontes de combustíveis renováveis e reduzir a dependência dos EUA ao petróleo importado. "Não houve consenso ou acordo, mas falamos sobre facilitar a importação (de etanol)", disse Pete Domenici, republicano do Novo México que preside a Comissão de Energia e Recursos Naturais do Senado.

Segundo o senador, os legisladores que participaram da conversa com o presidente eram em maioria de Estados da Nova Inglaterra e mostraram-se particularmente interessados. Esses Estados, na região nordeste dos EUA, estão em pleno processo de conversão do MTBE.

No mês passado, o governador da Flórida, Jeb Bush, enviou um memorando ao irmão, o presidente George W. Bush, exortando-o a adotar um plano para mais do que triplicar a produção de etanol dos EUA, de 4,3 bilhões de galões em 2005, para 15 bilhões de galões até 2015. O país produz etanol a partir do milho, que é, em termos de energia, bem menos eficiente do que a cana-de-açúcar usada no Brasil, o maior produtor mundial.

Os produtores americanos gastam uma unidade de energia de outra fontes para produzir pouco mais de uma unidade de energia em etanol de milho. Graças em grande parte ao uso do bagaço da cana, no Brasil essa mesma relação de de um para oito.

"O presidente Bush está aberto (ao debate) e encorajou as idéias dos congressistas que ajudarão a reduzir o preço (do combustível) na bomba", disse uma porta-voz da Casa Branca.

O senador Kent Conrad, democrata de Dakota do Norte e conhecido protecionista, participou da reunião com Bush e manifestou dúvidas sobre a queda de preços com a importação de etanol. Para ele, o foco deve estar no aumento da produção doméstica, que só é economicamente viável por causa dos generosos subsídios que recebe de Washington. "Precisamos construir nossa capacidade doméstica em lugar de substituir nossa dependência do petróleo importado pela do etanol importado."

O ministro da Agricultura brasileiro, Roberto Rodrigues, está empenhado em despertar o interesse do governo americano em uma operação para organizar e expandir o mercado mundial de etanol, que quer transformar em commodity. "O Brasil e os EUA são os dois países que têm hoje condições de ter grandes produções de etanol. Por isso, precisamos estudar juntos e avançar juntos em questões ecológicas, em questões comerciais e de parâmetros e normas."

Segundo ele, a suspensão pura e simples da tarifa de 54 centavos por galão pelos EUA "criaria uma demanda de etanol para a qual não existe oferta hoje no mundo". Os dois países, disse, "precisam fazer projetos conjuntos de médio e longo prazos e trabalhar juntos para aumentar a produção."