Título: País pode vender mais álcool a EUA
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Economia & Negócios, p. B8

Produtores prevêem que barreira dos Estados Unidos contra a venda de etanol deve cair ainda neste semestre

O setor sucroalcooleiro tem como certa, ainda no primeiro semestre, a queda da sobretaxa americana para a importação do álcool brasileiro. Por isso, a Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool vai reunir, até o final deste mês, lideranças do setor e representantes do governo para discutir a adoção de estratégias para o novo cenário.

"Sabemos que isso vai acontecer e o Brasil precisa estar preparado para este novo momento", diz Luiz Carlos Carvalho, presidente da Câmara e representante brasileiro na Governor's Ethanol Coalition (Coalizão de Governadores Americanos Pró-Etanol), comissão que concentra, além de 30 governadores defensores da mistura de 5% de etanol em toda a gasolina consumida nos Estados Unidos, representantes da Tailândia, Brasil, Suécia e Canadá.

Segundo o presidente da Câmara, os Estados Unidos cobram US$ 0,54 por galão (cerca de US$ 150 por metro cúbico) de etanol produzido pelo Brasil. A proposta de suspensão está sendo preparada pela Comissão de Finanças do Senado dos Estados Unidos, presidida pelo senador Charles Grassley, que esteve no mês passado no Brasil.

Para os Estados Unidos, a suspensão vai facilitar o fim do uso do MTBE (methil-tert-butyl-eter) como aditivo à gasolina, que está sendo abandonado pelas empresas petrolíferas por causa das pesadas multas impostas pela Justiça americana em razão do alto poder de poluição.

Com isso, estimam os usineiros, a suspensão poderá abrir espaço, ainda este ano, para a importação direta de 1 bilhão a 2 bilhões de litros do etanol brasileiro.

Os Estados Unidos não têm produção suficiente para fazer a mistura e não podem correr o risco de desabastecimento. Atualmente, aquele país produz cerca de 18 bilhões de litros de etanol por ano, mas precisaria de pelo menos outros 8 bilhões de litros. No ano passado, os Estados Unidos importaram cerca de 1 bilhão de litros, mas apenas 400 milhões diretos; o restante foi importado via Caribe, onde o produtor brasileiro consegue se livrar da sobretaxa.

CONSUMO INTERNO Para o presidente da Câmara, é impossível dimensionar um volume a ser exportado, mas o Brasil precisa estar preparado porque a abertura também deverá aumentar os preços pagos, atraindo os produtores locais. "Este cenário será tentador", disse.

Preocupada com uma possível corrida às exportações, a Câmara vai reunir lideranças do setor com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, para pedir uma posição com relação ao assunto e lembrar os produtores das necessidades internas.

Para Luiz Guilherme Zancaner, presidente da Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop), o Brasil teria condições de exportar os 2 bilhões de litros para os Estados Unidos com o excedente da redução da mistura e das novas usinas que entram em operação este ano.

"Mas primeiro é preciso respeitar o consumo interno e viabilizar álcool barato nas bombas para o consumidor, e só depois pensar na abertura como forma de comercialização", afirmou.