Título: Plano prevê moratória e cortes
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

Para recuperar a Varig, consultoria Alvarez&Marsal diagnosticou que estrutura da empresa é superdimensionada

O plano emergencial elaborado pela consultoria de origem americana Alvarez&Marsal para recuperar a Varig contempla a negociação de uma espécie de moratória de gastos correntes da empresa num prazo que varia de dois a sete meses, conforme o fornecedor. O diagnóstico é de que o fluxo de caixa é "insuficiente para arcar com os custos e despesas correntes" e que a estrutura operacional é "superdimensionada para o tamanho atual do negócio".

Os detalhes são do plano apresentado aos credores da Varig pela consultoria, conforme documento obtido pelo Estado. Dentre os problemas atuais traçados pela empresa estão o fato de que não há crédito junto aos principais fornecedores, além da impossibilidade de honrar com todos os compromissos correntes e a inexistência, no momento, de novas fontes de recursos para a companhia.

O documento da consultoria é datado de março e informa que um dos objetivos do projeto é "o financiamento da operação através da revisão de prazos e abertura de crédito, incluindo os períodos de carência, junto aos principais fornecedores de insumos e serviços", no valor de US$ 218 milhões, até o final do ano. A proposta começou a ser negociada nos últimos dias e já enfrentou resistência de alguns credores, preocupados em conceder a carência pedida.

"Esperamos que eles tenham tempo hábil para implementar isso tudo. Eles são muito reconhecidos no exterior", comentou o representante de um credor, que ainda não aceitou a proposta mas disse que continuará a negociação. O ex-presidente do Aerus, Odilon Junqueira, demitido ontem, também indicou que seria difícil aceitar a oferta.

Os detalhes indicam propostas diferenciadas. No caso das empresas de aluguel de aviões, está prevista a suspensão de três meses do pagamento, no valor de US$ 75 milhões, e a retomada do pagamento a partir de julho. A dívida acumulada de US$ 105 milhões seria repactuada e paga a partir de julho do ano que vem - além de investimentos na recuperação de aeronaves no valor de US$ 5 milhões ao mês, entre abril deste ano e maio de 2007.

Quanto à Infraero, a proposta apresentada contempla a suspensão por cinco meses, até agosto, do pagamento, o que acumularia US$ 45 milhões no período. Para a BR Distribuidora, a solicitação é de um prazo para o pagamento do combustível de dois meses, desde abril também. Hoje, a companhia paga o combustível antecipadamente para o consumo. Ao fundo de pensão Aerus o prazo pedido é mais dilatado, de sete meses, até outubro deste ano, com a compensação dos valores a partir de meados de 2007.

PESSOAL

Há também a previsão de corte de pessoal, que poderia chegar a 2,9 mil pessoas, além de redução salarial. Como tem apenas 54 dos seus 71 jatos operando, a avaliação é de que a empresa tem um staff, segundo os especialistas, muito maior do que precisa neste momento. A consultoria já participa ativamente do dia a dia da empresa. Uma fonte que acompanha o caso conta que ontem representantes da Alvarez acompanharam o presidente da Varig nos contatos com o governo federal.

A firma americana tem experiência na reestruturação de grandes companhias e já participou dos processos da US Airways e da Aeromexico. No setor, a avaliação é de que a consultoria aguarda a receptividade, principalmente dos credores estatais, para avançar na implementação das medidas. Outra fonte ligada ao assunto comentou que outra frente importante de economias poderia vir da devolução de alguns dos jatos que estão parados. Apesar de não operarem, representam custo para a companhia aérea, pois continua acumulando dívidas com aluguel.