Título: Plano nacional de combate à gripe aviária custará R$ 100 mi
Autor: Tânia Monteiro, Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Vida&, p. A31

Presidente Lula lançou ontem pacote de medidas e disse achar improvável que a doença chegue ao País

O governo federal lançou ontem um plano de prevenção contra a gripe aviária com custo estimado de R$ 100 milhões. Durante a solenidade, realizada na sede da Embrapa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse achar improvável que a gripe chegue ao Brasil, mas garantiu que o País está preparado para enfrentar a doença, caso seja necessário. "Nós estamos muito distantes do centro das aves migratórias, mas (o vírus) pode vir", afirmou. "Sempre tem uma ave mais peralta do que a outra, e ela pode resolver desandar aqui, para o lado do Brasil."

Para demonstrar que não há nenhum risco de consumir aves, o presidente e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, comeram coxas de frango diante das câmeras de fotógrafos e cinegrafistas. "Mesmo que houvesse casos de gripe aviária no Brasil, o alimento cozido não tem risco. O vírus desaparece no ovo ou na carne cozidos", disse Rodrigues.

AVES MIGRATÓRIAS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já confirmou a morte de 109 pessoas e a contaminação de outras 192 pelo vírus H5N1, a forma mais agressiva do vírus da gripe aviária. Sem falar nos milhões de aves sacrificadas em pelo menos 20 países.

Para o biólogo e coordenador científico do Laboratório de Genética do Instituto Butantã, Willy Beçak, a possibilidade de uma ave "peralta", como se referiu o presidente Lula, chegar ao Brasil trazendo o vírus H5N1 é uma possibilidade remota. "Uma ave contaminada não migrará sozinha. Em meio a um bando, uma pode até estar contaminada. Mas isso é muito difícil", disse.

Apesar da País fazer parte de pelo menos três rotas migratórias, esse não deve ser o caminho mais provável da chegada do vírus ao Brasil. "Antes de chegarem aqui, as aves têm de passar pelos EUA, onde existe um monitoramento rigoroso. Isso nos ajuda, pois temos uma dupla barreira de segurança", disse. "O maior risco é alguém trazer uma ave contaminada para o País, apesar de a importação de países em risco estar proibida."

PLANO NACIONAL

O plano divulgado pelo governo praticamente reproduz na íntegra o texto colocado para consulta pública em março. Uma alteração trata da ação para controle de possíveis focos. Se for diagnosticado um caso de gripe, será necessário fazer exames de laboratório nas aves da região infectada, quando saírem carregamentos para outro Estado.

O presidente reclamou das declarações "alarmistas" e das "bobagens" ditas sobre a gripe aviária, assegurando que o governo se prepara desde 2003 na prevenção contra o vírus. "É como se estivéssemos nos preparando para uma guerra", avaliou. "Montamos a nossa tática e sabemos que o inimigo vem por ali, vai vir acolá. Temos tudo preparado. Ele pode vir por outro lugar, mas se ele chegar por onde a gente está preparado, vamos combatê-lo e vencê-lo."

Lula disse que, enquanto o vírus matar apenas galinha não tem problema. "Agora, se pegar no ser humano, aí sim vamos saber o quanto vai mexer com a humanidade", afirmou, desconsiderando que já há pelo menos 109 pessoas mortas pela doença. Ele observou que o problema não é só do Ministério da Agricultura, mas de toda a sociedade. "Se o cidadão tem uma criação na casa dele, tem de estar vigilante porque (a doença) pode vir."

CONVITE PARA ALMOÇAR

O presidente levou a primeira-dama Marisa Letícia para comer diferentes pratos de frango na Embrapa, numa demonstração de que não há motivo para a população temer a ingestão de carne de aves. Marisa foi aplaudida por funcionários da instituição por seu aniversário. Ela completou ontem 56 anos. No discurso, Lula brincou com a primeira-dama. "Eu falei: 'Marisa, vou te convidar para almoçar fora'. Certamente, não contei que tinha esse ato porque ela ia dizer que não vale como presente", disse. "Mas olha quanta gente boa e bonita, é um aniversário coletivo."

Lula contou que o casal cria na Granja do Torto e no Palácio da Alvorada galinha d'angola e pato. Disse que as pessoas que têm 15 galinhas no terreiro não precisam ficar com medo de declarações publicadas pela imprensa. Mas que devem ficar apenas vigilantes e comunicar qualquer caso de morte de aves à Vigilância Sanitária. "Um mês atrás surgiu um boato no meu gabinete de que era preciso começar a matar as chamadas galinhas caipiras. Ora, eu falei, vai arrebentar do lado do coitadinho mesmo", relatou.

O presidente, que no auge da crise do mensalão, no ano passado, chamou os jornalistas de "aves de mau agouro", cobrou atenção da imprensa no noticiário sobre a gripe aviária. Para ele, os jornalistas devem ter cuidado com declarações alarmistas e inverdades. "Isso é muito delicado. Temos de pensar na saúde do nosso povo e na saúde financeira do setor industrial."