Título: Baixo nível da campanha põe propostas em segundo plano
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Internacional, p. A30

Eleitores vão votar sem saber o que coalizões pretendem fazer

Diante da deterioração do nível da campanha eleitoral nesses últimos dias, os eleitores italianos deverão votar sem ter assimilado os programas dos dois candidatos: o conservador Silvio Berlusconi e centro-esquerdista Romano Prodi.

Berlusconi fez uma campanha voltada para o medo, acenando com a volta do comunismo. Não poupou críticas e mesmo ofensas contra os adversários políticos, juízes de Milão que conduzem processos contra ele e até a imprensa nacional e internacional.

Berlusconi chegou a acusar Prodi de "o impedir de falar pela televisão", o que levou o candidato de centro-esquerda a lembrar que quem controla canais de televisão não é ele, mas o atual primeiro-ministro.

A opção pela radicalização e ataques pessoais pode ser explicada pela dificuldade de Berlusconi para defender o balanço negativo dos cinco anos de sua administração - muito bem explorado pelos adversários. A parte essencial do novo programa de modernização da economia italiana de Berlusconi, com 20 páginas, trata da continuação do projeto anterior. Falando para o empresariado, o ministro de Finanças, Giulio Tremonti, disse que o programa traça as grandes linhas "da continuidade da ação governamental".

Quanto a Prodi, seu programa constitui um verdadeiro pacto de governo concluído com seus aliados socialistas, radicais, verdes e comunistas. É um catálogo de propostas de 281 páginas, aprovadas pelos integrantes da coalizão de centro-esquerda. Tudo foi feito para evitar o que ocorreu em 1998, quando a ruptura dos antigos comunistas acabou provocando a queda do governo. Durante mais de oito meses, Prodi e seus assessores se reuniram em Bolonha para preparar esse programa, uma árdua tarefa de reunir questões diversas sobre economia e sociedade. Ele não esqueceu também as relações com a Igreja, um aspecto importante no país que abriga o Estado do Vaticano.

Os principais itens propõem mais justiça e igualdade social, uma redistribuição de renda mais equilibrada, um esforço para aumentar o estímulo à competitividade, uma sociedade sem exclusão, luta sem trégua contra a evasão fiscal e um país mais inserido na Europa. No seu projeto, Prodi denuncia os números atuais da economia, com crescimento zero nos últimos dois anos. Prodi avalia em 200 bilhões os prejuízos com fraude e evasão fiscal no país. Ele está convencido de que uma queda desse número vai ajudar muito o financiamento do relançamento da economia. "Aplicarei a lei com toda sua majestade" , afirmou.

Para as famílias, ele promete uma ajuda maternidade de 2,5 mil por ano. Outro problema que preocupa o país é o da imigração clandestina. Prodi deve revogar a lei Fini que prevê a criação de centros de retenção para os imigrantes irregulares. Um problema delicado que ele poderá enfrentar é a legalização da união entre homossexuais, medida condenada pela Igreja Católica.