Título: Stédile é indiciado no caso Aracruz
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Nacional, p. A20

Para polícia, coordenador do MST foi o mentor da destruição de laboratório e viveiro de mudas da empresa no RS

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul indiciou o coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, como mentor da destruição de um laboratório e de um viveiro de mudas da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro (RS). Outras 36 pessoas foram apontadas como participantes do planejamento ou da liderança da execução do ataque, ocorrido no dia 8 de março por quase 2 mil mulheres identificadas como militantes da Via Campesina. Elas são acusadas de crimes como dano qualificado e cárcere privado.

Entre os acusados estão os líderes internacionais da Via Campesina Paul Nicholson (País Basco) e Henri Saragin (Indonésia), e a brasileira Luciana Piovesan, do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais, que, na semana da invasão, estavam em Porto Alegre participando de um encontro paralelo à Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento e deram entrevistas justificando a ação.

Stédile entrou no caso ao declarar, naquele mesmo dia, que as mulheres estavam de parabéns por chamar a atenção da sociedade para a expansão das plantações de eucaliptos.

A delegada Raquel Dornelles, responsável pelo inquérito, disse que também pedirá a prisão preventiva de seis pessoas. Os nomes não foram divulgados sob a justificativa de que o sigilo facilitará a busca se a detenção for autorizada. O inquérito foi remetido ontem à Justiça. O promotor Daniel Indrusiak analisará o relatório a partir de segunda-feira e poderá pedir mais informações ou oferecer denúncia de imediato.

ATAQUE

O ataque ocorreu na madrugada do Dia Internacional da Mulher. As militantes chegaram ao horto em 37 ônibus e, depois de render e trancar os dois vigias num ônibus, passaram a destruir as mudas que estavam prontas ou em preparo para o plantio e as instalações do laboratório, acabando com experiências de melhoramento genético de eucaliptos que já duravam 20 anos.

Ontem, um dia antes de a depredação completar um mês, o trabalho estava normalizado no viveiro e no laboratório. O gerente florestal da empresa, Renato Rostirolla, disse que a expedição de mudas para o plantio foi retomada uma semana depois do ataque. O laboratório também continua com as atividades, embora ainda precise repor equipamentos. O retorno rápido às atividades se tornou possível porque 250 trabalhadores da área de plantio foram recrutados para atuar no mutirão de reconstrução.

Segundo Rostirolla, a Aracruz estima que perdeu 1 milhão de mudas. O prejuízo da destruição das plantas e do laboratório é calculado em US$ 400 mil. Mas a perda de material genético, de cruzamentos experimentais e de benefícios em produtividade de celulose pode chegar a US$ 6 milhões, admite ele. "A empresa vai buscar seus direitos", afirma, avisando que, identificados os autores, a Aracruz deverá mover ações para recuperação dos prejuízos financeiros, enquanto a Justiça trata da parte criminal.

Desde o ataque, movimentos ligados à Via Campesina não recebem mais repasses e não são reconhecidos como interlocutores pelo governo do Estado. Oito automóveis e 20 motocicletas que seriam entregues à Cooperativa Central de Assentamentos da Reforma Agrária (Coceargs) permanecem no pátio da Secretaria da Agricultura há um mês. "A ordem de serviço está mantida", garante o secretário em exercício, Iberê Orsi. Ele admite, no entanto, que a liberação poderá ocorrer no futuro. Procurados, representantes da Via Campesina e Stédile não responderam às ligações.