Título: PF identifica um cinta-larga que participou de assassinato
Autor: Mariana Caetano, Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Nacional, p. A16

Garimpo ilegal será esvaziado após morte de dois garimpeiros por índios

A Polícia Federal já identificou um dos índios cintas-largas responsáveis pelo assassinato de dois garimpeiros na Reserva Roosevelt em Rondônia, na quarta-feira. Outros dois indígenas teriam participado do crime, que ainda deixou outro garimpeiro ferido, mas os agentes da PF no local ainda não sabem quem são. A informação é do Ministério da Justiça.

De acordo com o secretário-executivo da pasta, Luiz Paulo Barreto, a PF, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e os caciques cintas-largas fecharam um acordo para esvaziar o garimpo ilegal de diamantes na Reserva Roosevelt, em Espigão do Oeste, a 580 quilômetros de Porto Velho. " Em 15 dias serão retiradas todas as máquinas usadas na extração de diamantes", afirmou o secretário. "Depois desse prazo, faremos uma vistoria em conjunto com a Funai, a Polícia Federal e os índios. Se esse cronograma não for cumprido, a PF fará uma operação para prender qualquer garimpeiro em atividade na região com 400 agentes."

Segundo Barreto, a morte dos dois garimpeiros foi um conflito isolado que não guarda nenhuma relação com o massacre de 29 garimpeiros que completou dois anos ontem. "Não houve um conflito generalizado entre índios e garimpeiros, mas uma bebedeira e uma briga que acabaram, lamentavelmente, nesses assassinatos."

A avaliação é a mesma do diretor da Polícia Federal para Operações de Fronteira, Mauro Sposito. Ele descartou qualquer possibilidade de um novo confronto no garimpo como o de 7 de abril de 2004. O garimpeiro Arionilsol Bispo da Silva, que ferido por um tiro de arma calibre 22 conseguiu escapar, está fora de perigo. Os dois garimpeiros mortos foram identificados como Francisco das Chagas, conhecido como Macarrão, e Nismar Nunes da Silva, o Pernambuco.

DIESEL

Sposito garante que hoje menos de 300 garimpeiros, entre brancos e índios, trabalham na Reserva Roosevelt. "Estamos impedindo a entrada de óleo diesel, e sem máquinas funcionando fica difícil garimpar. Mas às vezes os garimpeiros conseguem nos tapear, levando tambores no braço, em picadas por dentro da selva, mas isso é raro", afirmou.

Apesar da avaliação do diretor da PF, garimpeiros alegam que existe de 700 a 1.000 brancos trabalhando na terra dos cintas-largas. Ontem, o clima estava tenso e o movimento era grande na prefeitura e na única delegacia da Polícia Civil de Espigão do Oeste. Muitas pessoas queriam notícias de parentes que estão na reserva, alegando que o número de mortos poderia ser maior.

No dia 17 de março, Barreto informara ao Estado que a PF deflagraria uma operação no local "nos próximos dias". Ontem, contudo, ele disse que a operação foi adiada porque as negociações com os índios estavam progredindo. Na semana que vem, o governo deve apresentar um projeto de lei sobre a utilização de recursos minerais em reservas.

Barreto informou ainda que está "prestes a ser concluído" o laudo antropológico que a Justiça Federal aguarda para dar prosseguimento ao processo contra 28 cintas-largas indiciados pelo massacre em 2004.