Título: Inquérito do PT desmente Okamotto
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Nacional, p. A12

Depoimento de Ângela Guadagnin a comissão em 1997 mostra que ele assediava prefeituras para fazer caixa 2

Depoimento dado em 1997 pela ex-prefeita de São José dos Campos e atual deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) a uma comissão de inquérito de seu partido desmente a versão apresentada à CPI os Bingos pelo presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, de que nunca assediou prefeituras para reforçar o caixa 2 do PT. Naquela ocasião, Ângela afirmou que Okamotto a tinha procurado a fim de se informar sobre fornecedores da prefeitura para captar recursos.

O PT tinha aberto uma investigação interna depois da denúncia feita pelo economista Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de Finanças da gestão Guadagnin, de que a Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM) vendia serviços às prefeituras para arrecadar recursos para o caixa 2 do partido. A empresa era representada pelo advogado Roberto Teixeira, compadre de Luiz Inácio Lula da Silva. Por causa da denúncia, Venceslau foi expulso do PT.

Durante acareação na CPI, o economista repetiu a acusação e contou ter levado o caso a Okamotto. Segundo Venceslau, o petista reagiu rispidamente e teria tentado evitar a apuração para proteger a CPEM. Okamotto, que está sob investigação por não ter revelado a origem do dinheiro com o qual pagou débito de R$ 29,4 mil de Lula, negou a intermediação. "O senhor mente, delira. Nunca teve essa conversa comigo", reagiu. "Nunca pedi a lista de fornecedores a nenhum prefeito."

Em depoimento no dia 7 de junho de 1997, contudo, Ângela afirmou à comissão interna do PT que Okamotto pediu, sim, a lista de fornecedores da prefeitura. Queria saber até que empresas poderia procurar para captar recursos. Seu testemunho não foi levado em conta pelo partido, na época presidido por José Dirceu. Hoje Ângela é conhecida nacionalmente como a deputada da "dança da pizza", por ter sambado no plenário após a absolvição de um colega de partido acusado pelo mensalão.

A seguir, trecho do depoimento de Ângela Guadagnin: "Comissão de Inquérito do PT: 'Ângela, deixa eu te perguntar mais uma coisa. Falando do Paulo Okamotto, ele em algum momento procurou você, falando de fornecedores, querendo saber de fornecedores da prefeitura para fins de captação de recursos para o partido?' Ângela: 'Procurou'.

Comissão: 'E ele queria saber o quê?' Ângela: 'Exatamente quais ele poderia procurar para ver se podiam estar ajudando, coisa assim'.

Comissão: 'Ele perguntou a relação de fornecedores da prefeitura para que ele procurasse, para ajudar financeiramente o partido, é isso?' Ângela: 'Sim'. Comissão: 'Ele procurou?' Ângela: 'Sim'."

O próprio Okamotto, falando à mesma comissão, descreveu como abordava os possíveis contribuintes em administrações do PT: "Você está contente com essa política, quer que essa política continue, ganhe, está a fim de contribuir para isso? Então nós vamos pedir para o nosso cara de finanças procurá-lo, tudo bem?"

Ângela Guadagnin foi procurada ontem em Brasília e em São José, mas não foi localizada. Okamotto não foi localizado em Brasília.