Título: Período eleitoral teria preservado Lula na CPI
Autor: Eugênia Lopes, Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Nacional, p. A10

Segundo relator, no 1.º ano de mandato resultado seria outro

Apesar de reconhecer que "não foi possível provar o envolvimento de Lula" no mensalão ou em caixa 2 de campanha eleitoral, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), acredita que a proximidade das eleições contribuiu para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fosse mais preservado.

"Se estivesse no primeiro ano de mandato as coisas seriam diferentes. Tenho convicção disso", acentuou.

A isso somou-se a limitação da própria comissão em suas investigações. "Estamos num âmbito de investigação limitado. Não investigo todas as coisas de Lula", ponderou.

Segundo ele, só foi possível chegar perto do filho do presidente, Fábio, sócio de uma empresa que teve debêntures compradas pela Petros (fundo de pensão da Petrobrás), quando foram investigados os fundos de pensão.

"Mas investigamos marginalmente porque não foi criada a CPI dos Fundos de Pensão", disse. "Se tiver uma CPI para investigar esse tipo de coisa se vai às últimas conseqüências."

Além disso, segundo o deputado, não havia nenhum respaldo popular para responsabilizar o presidente. "A população, talvez até sabiamente, separou Lula do lamaçal que vinha aparecendo", afirmou.

"Se houvesse um movimento como aconteceu com o Collor (ex-presidente Fernando Collor de Mello), por meio dos caras-pintadas, talvez a história fosse diferente, porque realmente é muita corrupção." Segundo ele, o "antídoto" pode vir nas eleições de outubro.

Como já registrou em seu relatório, Serraglio ressaltou que não tinha competência legal para quebrar sigilo de parlamentares, o que poderia provar definitivamente o mensalão.

"Houve uma CPI do Mensalão, que tinha poder para fazer isso, mas ela melou", lamentou.

Ele espera que o Ministério Público requeira e consiga ordens judiciais para a quebra dos sigilos. "Admitir que pagavam para votar é grave", afirmou.

"Eles (dirigentes do PT) não podiam admitir e aí tinham que estudar outra história: o dinheiro foi para a campanha."

Serraglio manifestou-se "frustrado e triste" com a absolvição pelo plenário da Câmara de parlamentares acusados de se beneficiarem do valerioduto.

O plenário contrariou pedidos de cassação recomendados pelo Conselho de Ética para seis deputados, que foram absolvidos.

Segundo ele, a absolvição é fruto de "acordo" entre os deputados. "O fato de serem réus une os réus. Não há mais vergonha", afirmou.