Título: Delcídio representa contra Bittar
Autor: Eugênia Lopes, Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Nacional, p. A10

Senador pede instauração de inquérito penal contra o colega no MP e alega falta de decoro no Conselho de Ética

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), entrou ontem com duas representações contra o deputado Jorge Bittar (PT-RJ). Uma foi encaminhada ao Ministério Público e pede a instauração de inquérito penal, a outra requer abertura de processo pelo Conselho de Ética da Câmara por falta de decoro parlamentar. Na última sessão da CPI dos Correios, na quarta-feira, Bittar agrediu verbalmente Delcídio: chamou-o de "Judas" e "traidor", além de tê-lo xingado. O relatório final da CPI foi aprovado por 17 votos a 4, sob protestos dos petistas.

"Ele (Delcídio) quer me fazer passar por vilão. Mover uma representação ao Ministério Público e outra à Mesa da Câmara é um jogo de cena para deixar de ser infrator e passar a vítima. Ele está tentando ser malandro demais", reagiu Bittar. "Não encostei um dedo nele, sou um homem de paz", completou o petista. Ele disse que Delcídio agiu de forma "truculenta" e "arbitrária" ao não dar a palavra a nenhum dos integrantes da CPI nem permitir a votação e discussão de destaques ao relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Delcídio protocolou representação no MP sob a alegação de que o deputado tentou "abortar o resultado útil da sessão de votação do relatório final". O presidente da CPI dos Correios pediu a instauração de inquérito penal e posterior propositura ação penal pública contra Bittar, que teria tentado "abortar a sessão mediante graves ofensas difamatórias bradadas em rede nacional e ao vivo".

Na outra representação, encaminhada ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), Delcídio argumenta que Bittar pode ser enquadrado em crime de difamação por tê-lo xingado e usado "vocábulos de baixo calão". "Os atos praticados não constituem simples ofensas, representaram franco descumprimento dos deveres fundamentais de deputado", alegou o presidente da CPI.

A direção nacional do PT decidiu intervir na guerra declarada entre Delcídio e a bancada do partido no Congresso. Chamado de "traidor" por ter atropelado, na visão dos petistas, as negociações para aprovação de um relatório final da CPI de consenso entre governo e oposição, Delcídio deverá reunir-se com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, na próxima semana. É esta pelo menos a intenção de Berzoini, que antes terá encontro com a bancada petista na CPI para tentar acalmar os ânimos.

Reunida ontem em São Paulo, a Executiva Nacional do PT avaliou os prejuízos que o acirramento do conflito com o presidente da CPI pode causar à imagem do partido. "Não vamos fazer nada que permita ao Delcídio posar de vítima", resumiu um dos integrantes da cúpula petista. O assunto não entrou na pauta formal da reunião, mas pelo menos três integrantes da direção manifestaram sua revolta. "Por trás daquela cabeleira branca está uma vistosa plumagem tucana", afirmou um deles. Delcídio é pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul.