Título: Quanto pior era melhor
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Nacional, p. A6

Delcídio faz julgamento rigoroso de seu partido na CPI: "O PT só queria bagunçar"

O qüiproquó armado pelo PT em torno do relatório da CPI dos Correios não tinha como objetivo aprovar um documento alternativo ao do relator Osmar Serraglio, corrigir injustiças ou adequar as investigações aos fatos objetivos, sem ilações de natureza eleitoral.

A finalidade do partido era, na convicção do senador que presidiu a comissão, Delcídio Amaral, "bagunçar" o ambiente de forma que terminasse o prazo da CPI sem o relatório. Este, na avaliação do senador, será a "bíblia" do público na eleição.

Como petista e candidato do partido ao governo de Mato Grosso do Sul, Delcídio Amaral ficou satisfeito de ter frustrado a votação dos destaques requeridos pela líder do PT no Senado, Ideli Salvatti, cuja conseqüência seria a aprovação do indiciamento do presidente Luiz Inácio da Silva, o primeiro destaque da fila, apresentado pelo senador Álvaro Dias.

Então, lícita a dúvida: o PT estava pouco se importando com o destino de Lula? "Se não de propósito, pelo menos por conta da desorganização, falta de inteligência e ausência absoluta de estratégia e boa-fé no debate."

Esta é a versão mais amena. Na mais rigorosa, Delcídio suspeita fortemente de que os petistas estivessem atendendo a pressões de partidos aliados e sobretudo do ex-deputado José Dirceu que "operou, e muito", para ter seu nome excluído.

Segundo Delcídio, o PT sabia o tempo todo quais eram as regras; depois de aprovado o relatório de Serraglio, não havia como fazer modificações a não ser por meio de votos em separado dos pontos a serem modificados.

Mesmo assim, o partido insistiu na ação não regimental e apresentou seus votos em separado na forma de um relatório único. "Ora, quem quer realmente negociar se prepara para isso. Mas a estratégia era procrastinar daquele jeito do PT, dissimulando a realidade", analisa.

Na visão dele, os petistas sabiam todo o tempo que, na votação, perderiam por dois votos. Então, apostaram no caos em que seguramente se transformaria a reunião de votação da CPI na quarta-feira caso Delcídio Amaral aceitasse abrir espaço para os destaques, ou mesmo levasse o relator a ler as mil páginas do documento apresentado pelo PT sem o resumo dos itens passíveis de modificação.

"Queriam ganhar tempo, enrolar o relator e, como na quinta e na sexta-feiras não haveria quórum para votação, chegaríamos ao prazo final da segunda-feira sem relatório algum."

Mas, neste caso, o PT ficaria com a responsabilidade por ter desmoralizado a CPI, não seria pior?

"E por acaso quem opera em desacordo com a opinião pública tem alguma preocupação com isso? Tem algum problema com o julgamento, ou compromisso com a sociedade?"

Neomensaleiros

O ex-presidente da CPI dos Correios, é claro, viu, assim como o ex-relator, todos os nomes de assessores parlamentares que estiveram na fatídica agência do banco Rural no Brasília Shopping e integram uma lista não divulgada e remetida diretamente à investigação do Ministério Público.

Mas recusa-se a dar qualquer pista a respeito dos chefes (deputados) dos assessores porque, segundo ele, a CPI não teve tempo de investigar se foram realmente sacar dinheiro das contas de Marcos Valério. "Há coincidências que indicam que sim, mas não dá para cometer injustiças."

Os nomes dos assessores chegaram à CPI, de acordo com Delcídio, apenas há 15 dias e, assim mesmo, por canais paralelos, pois a direção da Câmara, desde a gestão Severino Cavalcanti, vinha evitando fornecer os nomes.

Sua divulgação, que poderá render uma nova lista de mensaleiros, agora depende da Procuradoria-Geral da República.

Erro de pessoa

O advogado José Roberto Batochio escreve pedindo correção do artigo de quinta-feira sobre o "espetáculo mambembe" montado por ele ao convocar a imprensa para uma entrevista "bombástica" em determinado local enquanto, nessa hora, seu cliente Antonio Palocci depunha às escondidas para a Polícia Federal na residência oficial que já não tinha mais direito de ocupar.

Segundo Batochio, ele nunca falou que revelaria "uma bomba" e sim que teria um "fato relevante" a comunicar. Nega que tenha usado a assessoria de imprensa da OAB, mas sim uma empresa particular de comunicação.

Justifica ter aparecido para a entrevista cinco horas depois devido a um atraso no depoimento e repudia a referência a discursos ofensivos a presidentes da República nas dependências do Supremo Tribunal Federal, que não fez.

O advogado tem razão apenas quanto a este último item. De fato não foi ele o autor de discursos agressivos a Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva no STF. Os mal educados respondem pelos nomes de Rubens Approbato e Roberto Busato, ex e atual presidentes da Ordem respectivamente.

Quanto à armadilha do despiste, os fatos falaram por si e a empresa de assessoria de imprensa referida por ele tem, entre seus clientes, a Ordem dos Advogados do Brasil.