Título: Palocci negocia com delegado para evitar risco de ser preso
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Nacional, p. A4

Ex-ministro deve se apresentar à polícia em data que está sendo ajustada entre sua defesa e Valencise

Acuado pela polícia, que o acusa de peculato, falsidade ideológica e formação de quadrilha, Antonio Palocci deu ontem o primeiro passo na direção de um pacto que poderá livrá-lo do fantasma da prisão preventiva. O ex-ministro se dispôs a colaborar com a polícia, apresentando-se em data que está sendo ajustada entre sua defesa e o delegado Benedito Valencise, de Ribeirão Preto.

A colaboração de Palocci não quer dizer que ele pretenda admitir envolvimento em irregularidades na sua administração como prefeito de Ribeirão, entre 2001 e 2002, período em que o Departamento de Água e Esgoto (Daerp), autarquia municipal, se transformou em foco de peculato, segundo a polícia.

Palocci deverá ser ouvido logo após o feriado da Semana Santa. O local ainda não está definido. O ex-ministro prefere depor em Brasília porque acredita que em sua residência na capital a pressão será menor. Mas a audiência poderá ser realizada em Ribeirão, onde a polícia e também o Ministério Público o aguardam com uma coleção de inquéritos civis e criminais.

Por meio de seu advogado, José Roberto Batochio, o ex-ministro comunicou o delegado Valencise de que "está à disposição" para depor formalmente no inquérito que investiga suposta fraude no sistema de limpeza urbana durante sua gestão (2001-2002) e a de seu sucessor, Gilberto Maggioni (2003-2004).

Foi Batochio quem tomou a iniciativa de procurar o delegado, a quem telefonou no início da manhã de ontem depois de conversar longamente com Palocci. O advogado orientou o ex-ministro sobre a importância de atender rapidamente à polícia, antes que a intimação dê lugar a um pedido de prisão.

Quarta-feira à noite, o delegado estava decidido a pressionar o alvo maior de sua investigação, que deverá responsabilizar de oito a dez pessoas por suposto desvio de recursos públicos. Valencise andava indignado com a dificuldade em localizar Palocci para intimá-lo. "A gente começa a procurar e aí não acha. Então, existem outras conseqüências cabíveis." O policial destacou que "existem várias providências que podem ser tomadas contra quem não é localizado para receber intimação". E mandou um recado a Palocci: "Por isso é bom que apareça."

A polícia sustenta que são "inquestionáveis" as provas do envolvimento de Palocci na fraude do lixo e outros contratos.