Título: Retomada da construção
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2006, Notas e Informações, p. A3

Surgem os primeiros indícios de retomada da construção civil, como mostrou reportagem de Marcelo Rehder publicada segunda-feira pelo Estado. Em parte, a recuperação se deve ao calendário eleitoral. Em época de eleições gerais - para a Presidência da República, governos estaduais, Senado e Câmaras federal e estaduais - é usual o crescimento dos investimentos em obras públicas nos três níveis do Poder Executivo. Por exemplo, o recapeamento das estradas federais, sem licitação e em caráter de urgência, teve óbvio propósito eleitoral, ainda que alivie, temporariamente, a dramática situação da rede viária. Mas, além disso, a recuperação do setor também é propiciada pela liberação de recursos e pela legislação que ampliou a segurança dos contratos.

O segmento da construção civil - residências e obras públicas - responde por cerca de 55% da Formação Bruta de Capital Fixo, ou seja, da taxa de investimento da economia. É também grande gerador de empregos, inclusive de baixa qualificação, atenuando o impacto da desocupação nos grandes centros urbanos. Bastaria, para a retomada da construção, o aumento da demanda das famílias por residências e apartamentos novos e a reforma dos imóveis antigos.

Na área imobiliária, um dos primeiros sinais da retomada é o crescimento da demanda por terrenos nas regiões metropolitanas, tanto para lançamentos imediatos como para futuros lançamentos.

Em São Paulo, a aquisição de áreas para incorporação se tornou mais difícil com a Lei do Zoneamento de 2004, que reduziu o coeficiente de aproveitamento - a relação entre a área do terreno e a área edificável. Mas, mesmo com esse fator que encarece os imóveis, os empreendedores voltam ao mercado, aproveitando uma fase promissora. E o fenômeno não é restrito a São Paulo, registrando-se, por exemplo, também no segundo mercado de imóveis mais importante do País, o do Rio de Janeiro.

O aumento da demanda tende a se generalizar. Investidores estrangeiros que dão preferência a imóveis comerciais - como edifícios de escritórios e hotéis - despertam para o potencial imobiliário brasileiro, onde os preços são inferiores aos de países desenvolvidos e em desenvolvimento. A queda do risco Brasil é um fator de estímulo aos investimentos externos, inclusive imobiliários, analisa o departamento econômico do Bradesco.

Mas a demanda vem, principalmente, do mercado doméstico - e é forte até no segmento de baixa renda, beneficiado por subsídios. Reportagem de Ribamar Oliveira, publicada no Estado de segunda-feira, mostrou que, em 2005, nada menos de 331 mil famílias com renda mensal de até três salários mínimos receberam casas praticamente de graça, financiadas com recursos do FGTS. Não se trata de mágica contábil capaz de ameaçar as contas do Fundo, mas da existência de superávit propiciado pela diferença entre os juros recebidos pelo FGTS por suas aplicações em títulos públicos e a remuneração que paga aos depositantes. Em 2005, o Fundo destinou R$ 899,5 milhões a financiamentos subsidiados e, neste ano, está previsto R$ 1,3 bilhão.

Mas esta é uma pequena fatia do montante total que poderá ser destinado a investimentos na construção civil neste ano - que poderia atingir R$ 80 bilhões. "Se a metade disso for aplicada, já será bem mais do que no ano passado", notou o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), João Carlos Robusti. Seu otimismo se ampara em pesquisas da GV Consult, da Fundação Getúlio Vargas, feitas com 260 empresas do setor. Tem diminuído, por exemplo, o índice de dificuldades financeiras das empresas de construção, segundo o SindusCon.

Mais recursos e menos juros são os principais fatores de estímulo para construtores, investidores e mutuários potenciais - que dependem de crédito para ter acesso à casa própria. Além disso, o setor de construção colhe os efeitos dos estímulos fiscais à venda de imóvel para comprar outro imóvel e da certeza de que bons instrumentos de garantia - como a alienação fiduciária - darão segurança aos financiadores.