Título: Safra 2007 será a pior em 5 anos
Autor: Venilson Ferreira e Ana Conceição
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2006, Economia & Negócios, p. B20

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem que o Brasil irá colher em 2007 a pior safra dos últimos cinco anos. Segundo ele, o endividamento e a descapitalização dos produtores rurais devem provocar a redução de 6 milhões de hectares na área plantada na próxima safra. Entre 2005 e 2007, a redução de área plantada deve chegar a 12 milhões de hectares. Ele participou do seminário Perspectivas para o Agribusiness em 2006 e 2007.

Para o ministro, a situação do agronegócio no Brasil poderá afetar os preços internacionais dos grãos. Ele afirmou que a maioria das causas da crise atual está relacionada a questões que estão fora da alçada do ministério, como câmbio, deficiência na infra-estrutura e problemas climáticos: "Mas a crise está sentada no colo do ministério da Agricultura".

Ele disse que nos últimos dois anos, o agronegócio deixou de faturar R$ 30 bilhões. A crise atual, de acordo com ele, é a maior dos últimos 40 anos pela importância que o agronegócio tem hoje na economia. "Crises tivemos muitas que também foram sérias, mas neste ano existe um agravante, por ter afetado também o setor de carnes, em função da ocorrência da gripe aviária em outros países e do foco de aftosa no Brasil", disse.

O ministro afirmou que o plano de safra 2006/07 deve ser anunciado até o final de maio e que a linha mestra será "mais dinheiro e mais barato" para superar o problema do endividamento. Ele disse que o pacote de medidas de emergência, que por questões burocráticas demorou um mês entre o anúncio e a entrada em vigor, vai reduzir pela metade as dívidas dos agricultores. Rodrigues afirmou que serão alongados R$ 7 bilhões em créditos de investimento e outros R$ 7 bilhões no custeio. Na sua opinião, as medidas amenizam a crise mas não resolvem o problema dos produtores no Mato Grosso: "Lá a questão é de aritmética. A conta não fecha".

O presidente da Associação Brasileira de Agronegócio, Carlo Lovatelli, disse que os problemas atuais poderiam ter sido evitados "se muita coisa tivesse sido feita tempos atrás". Infelizmente, disse ele, muitos setores do governo vêem o agronegócio como um "grupo de pidões e chorões".

Lovatelli afirmou que a Abag vai realizar encontros com os presidenciáveis para apresentar 15 temas relevantes com os quais os candidatos devem assumir compromissos. Um dos pontos é a dotação orçamentária do ministério da Agricultura que, segundo ele, neste ano representa 10% do montante de 10 anos atrás. Outra questão refere-se à tributação. A Abag defende a isonomia tributária com o fim do ICMS, "pois muitas vezes na escolha de locais para instalação de indústria, as benesses fiscais contam mais que a logística e proximidade dos pólos de produção". A Abag também vai cobrar um compromisso com a segurança fundiária, "pois o direito de propriedade deve prevalecer já que as ameaças de invasões afastam investimentos".

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), Macel Caixeta, disse ontem, em Brasília, que o governo federal está tornando inviável a atividade agrícola no País. "Continuamos defendendo o ministro, mas parece que ele está dormindo, pois anuncia medidas que não terão eficácia", afirmou Caixeta.