Título: Mesmo sem a bomba, país tem um formidável poder militar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Internacional, p. A14

São 1 milhão de combatentes apoiados por mísseis, aviões e blindados

O fogo atômico dos aiatolás pode demorar até 10 anos - e no cenário mais favorável para eles talvez pouco mais de 30 meses, segundo os principais centros de estudos estratégicos da Europa e dos Estados Unidos. Mas as forças convencionais do Irã são perigosas mesmo assim, sem armas nucleares e com 1 milhão de combatentes, entre os quais 350 mil bem treinados reservistas.

Exército, Marinha e Aeronáutica dispõem de um notável arsenal de equipamentos em grande parte produzidos no país, por meio de um complexo industrial que mobiliza cerca de 240 fábricas. O programa de capacitação é coordenado pela Iran Defence Industry e emprega 60 mil homens e mulheres. Muitas das linhas de produção são subterrâneas, protegidas por montanhas de rocha, da mesma forma que os centros experimentais nucleares da região norte. Contra elas é que o presidente George Bush pode pode lançar as novas bombas atômicas do Pentágono, as B61-11.

Desde 1990 o governo tem aumentado o investimento nas pesquisas de tecnologia militar em US$ 300 milhões ao ano. As compras externas foram intensificadas nos últimos 15 anos. Acordos de cooperação com a China, a Coréia do Norte, a Rússia e a Ucrânia resultaram em programas como o do desenvolvimento do míssil de cruzeiro X-55. O general ucraniano Svyatoslav Piskun intermediou a venda para Teerã, em 2001, de 12 unidades da versão AS-15 dessa arma móvel, que pode atingir alvos a 2.500 km do ponto de lançamento. O Instituto Internacional de Estudos Estratégcios de Londres (IISS) estima que haja cerca de 50 unidades. aperfeiçoadas e prontas para uso, em poder da Guarda Revolucionária Islâmica.

Na primavera de 1999, o trabalho conjunto de especialistas da Coréia do Norte e do Irã envolvia 14 diferentes tipos de mísseis pesados. Em 2003 o Ministério da Defesa passou a trabalhar em três lançadores de características estratégicas - a série Shahab, inspirada no modelo Nodong, coreano (ver quadro acima) dois dos quais já estão em fase de fabricação regular.

O maior deles, o Shahab-5, foi apenas testado, mas na configuração de 3 estágios pode chegar até certas regiões da Itália - além de cobrir o Oriente Médio, Ásia e parte da África.

A revitalização do equipamento militar do Irã começou em 1981, sob a pressão da guerra contra o Iraque de Saddam Hussein. Durante os oito anos do conflito o governo de Teerã enfrentou grande dificuldade para fazer funcionar os formidáveis sistemas de armas herdados do regime do imperador Reza Pahlevi. Não era pouco. A aviação, por exemplo, tinha supersônicos F-14 Tomcat, na época os mais modernos em uso pela força aérea naval americana, mas não dispunha de pilotos e nem de componentes para manter os caças no ar. Quando os engenheiros aprenderam a dominar os macetes da improvisação trataram de transferir essa habilidade primeiro para o Exército e depois para a Marinha.

O processo de modernização não parou nunca. Há ainda cerca de 25 F-14s em uso, dotados de recursos eletrônicos modernos, comprados na China e na Rússia para serem adaptados. A força aérea emprega ainda 80 F-5E. Grande parte foi revisada, alguns esquadrões receberam novos radares e designadores laser para lançamento de bombas de precisão. Pelo menos quatro jatos foram radicalmente modificados de forma a ganhar seções novas na fuselagem de forma a aumentar a capacidade de manobra.

Há material brasileiro no inventário das forças iranianas. A aviação treina pessoal no que restou de uma encomenda de 15 aviões Tucano Emb-312, da Embraer, entregue há 20 anos. A empresa desconhece a forma pela qual as aeronaves possam estar sendo mantidas. Dois dos turboélices foram modificados para cumprir missões de coleta de dados. O Exército tem blindados EE-9 Cascavel da extinta Engesa armados com canhões de 90 milímetros. Não foram comprados. Durante uma batalha no conflito iraquiano, acabaram apreendidos em luta.