Título: 'Irã não é Iraque', avisa Blair
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Internacional, p. A14

Líder britânico descarta opção militar, mas quer que regime teocrático receba uma "mensagem forte e única"

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, disse ontem no Parlamento que a comunidade internacional "precisa enviar uma mensagem forte e única" ao Irã para que esse país renuncie a seu programa de enriquecimento de urânio. Quando lhe perguntaram, na semanal sessão de perguntas dos parlamentares ao chefe de governo, sobre a possibilidade de uma ação militar, Blair foi categórico: " Tenho dito freqüentemente que o Irã não é o Iraque. Ninguém está falando em invasão militar." A declaração de Blair contrasta com as do presidente americano, George W. Bush, e da secretária de Estado, Condoleezza Rice, que deixam claro que "todas as opções estão na mesa"

Pouco antes, o chanceler britânico, Jack Straw, declarou durante visita à Arábia Saudita que o Irã tem dado "alguma resposta" à pressão internacional. Mesmo assim, Straw não acredita que o país atenderá até o dia 28 a recomendação do Conselho de Segurança da ONU para que suspenda seu programa de enriquecimento de urânio. No dia 28 a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deverá apresentar um relatório sobre a cooperação iraniana. A crescente tensão sobre o programa iraniano contribuiu para elevar o preço do petróleo (ler no Caderno de Economia).

O governo do Irã sustenta que seu programa nuclear tem como única meta a produção de energia elétrica, mas o Conselho de Segurança teme que o país tenha um plano secreto para fabricar armas atômicas. Isto porque o urânio enriquecido tanto serve para uso pacífico como para armamentos (desde que num nível elevado de purificação). Ontem, uma delegação de alto nível do Irã chegou a Moscou para conversações com diplomatas da França, Grã-Bretanha e Alemanha.

A divisão das grandes potências sobre como pressionar o Irã parece excluir, no momento, qualquer possibilidade de imposição de sanções ao país. O chanceler russo, Serguei Lavrov, reafirmou ontem a oposição de seu país a sanções contra o Irã, do qual é um forte aliado, e disse que a Rússia não apóia nenhuma ação antes do relatório da AIEA. A China, também forte parceira comercial dos iranianos, segue a mesma posição.

Por outro lado, o governo americano pediu à Rússia e a toda comunidade internacional que não colaborem com Teerã no campo nuclear. O subsecretário de Estado Nicholas Burns pediu que Moscou interrompa a construção da usina nuclear de Bushehr, no sul do Irã, que os EUA suspeitam seja uma fachada para um projeto militar.

Burns - o número 3 na Secretaria de Estado - fez o comentário depois de participar de uma reunião em Moscou de representantes dos EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha para discutir os próximos passos na pressão sobre o Irã. Ele disse ainda que "quase todos os países (do Conselho) estão analisando algum tipo de sanção". Mas Rússia e China têm poder de veto no Conselho, por serem membros permanentes, ao lado de EUA, Grã-Bretanha e França. Enquanto Burns indicava que os EUA poderiam adotar algum tipo de sanção de forma unilateral, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, dizia ontem em Chicago que o governo está disposto a recorrer a "medidas econômicas, políticas e outras" para impedir o Irã de desenvolver a tecnologia nuclear.