Título: Candidatura própria ganha força no PMDB
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Nacional, p. A10

A tese da candidatura própria do PMDB ao Planalto ganhou força ontem na reunião dos dois pré-candidatos - Itamar Franco e Anthony Garotinho - com presidentes de diretórios estaduais da sigla. Embora o placar tenha sido desfavorável ao lançamento de candidato - 13 rejeitaram a tese e 11 apoiaram -, quem cantou vitória foi a ala que defende a candidatura: Estados que detêm a maioria dos votos na convenção nacional que decidirá a questão manifestaram-se a favor dela.

"A vitória da candidatura própria foi avassaladora, com mais de 400 dos 726 votos da convenção", comemorou Garotinho ao final de quase quatro horas de reunião. Em tese, sua contabilidade aponta exatos 457 votos pró-candidatura própria. Afinal, apenas os seis maiores Estados que defendem o lançamento de um peemedebista na disputa (RJ, SP, MG, RS, PR e GO) já reúnem 316 convencionais. "Cada vez mais se fortalece o desejo de ter candidato próprio a presidente", concordou Itamar, depois de anunciar que levará seu nome à convenção.

Até o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PE), que votou contra a candidatura do PMDB para preservar aliança local de uma década com PFL e PSDB, surpreendeu-se: "Não tenho dúvidas de que, se a convenção fosse hoje, a candidatura própria seria aprovada." A verticalização proíbe parceria entre partidos adversários na corrida presidencial. "Prosperando a candidatura Itamar, não tenho como deixar de acolhê-lo no meu Estado." Jarbas é contra Garotinho.

A despeito da divisão, o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), também avaliou que prevaleceu "a idéia de que o PMDB não pode faltar ao País e deve lançar candidato". O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), falou em nome de Alagoas, onde o PMDB apóia o PSDB. Acabou interrompido pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), que lembrou o tempo em que "esse menino" puxava pelas mãos o então candidato a presidente Fernando Collor.

O momento mais tenso foi quando o ex-governador Newton Cardoso pediu a palavra e, a despeito dos apelos para evitar briga pública com Itamar, seu desafeto, não se conteve. "Meu discurso aqui foi censurado, mas me reservo o direito de mostrar quem é Itamar na convenção do partido em Minas, onde a quase unanimidade é Garotinho", disse.

"O senhor não fala por mim", protestou o deputado Marcello Siqueira (PMDB-MG). Itamar se esquivou do bate-boca. "O PMDB está mais parecido com hospício do que com partido. Não temos candidatura, temos experimento", criticou Geddel Vieira Lima (BA).