Título: MP chama Dirceu para depor sobre corrupção em Santo André
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Nacional, p. A9

Promotores suspeitam que parte dos R$ 100 mi movimentados pelo esquema bancou caixa do PT

O Ministério Público paulista convocou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para depor no dia 4 de maio sobre o suposto esquema de corrupção da administração de Celso Daniel (PT). Os promotores investigam se parte dos R$ 100 milhões movimentados pelo esquema passou pelas mãos de Dirceu e financiou campanhas do PT.

Celso Daniel foi seqüestrado no dia 18 de janeiro de 2002 e seu corpo foi encontrado com oito tiros dois dias depois em uma estrada de terra em Juquitiba, na Grande São Paulo.

Inquérito policial sustentava crime comum, mas a família do prefeito acredita em queima de arquivo. Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, teria relatado ao irmão de Daniel, João Francisco, esquema de propina com empresas de ônibus da cidade para abastecer o caixa petista.

O MP vem tentando ouvir Dirceu desde 2002, quando João Francisco revelou sua conversa com Carvalho. Na época o Supremo Tribunal Federal (STF) negou o pedido de investigação sobre Dirceu, que tinha foro privilegiado por ser deputado. "Se tivesse a oportunidade de investigar a fundo a destinação de recursos a José Dirceu, com certeza a gente não teria esses fatos históricos tão tristes", disse o promotor Roberto Wider Filho.

"Quero saber sobre esses recursos que foram destinados ao escritório de Dirceu, segundo a versão do Gilberto Carvalho", disse Wider, que formalizou convite a Dirceu, Carvalho (oitiva dia 8 de maio) e outras seis pessoas ontem com uma portaria. As convocações foram feitas por convite porque os depoentes não residem em Santo André. "Se eles declinarem o convite e exercerem a prerrogativa de serem ouvidos só na comarca onde têm domicílio, vou até as cidades deles, arrumo um local para a oitiva e faço as intimações. São firulas legais."

O empresário Marcos Valério também foi incluído nas investigações. O ex-procurador-geral da República Aristides Junqueira defendeu Dirceu no caso. Seus honorários, segundo os promotores, foram de R$ 500 mil e o dinheiro saiu de uma conta de Valério. Na portaria do MP, Dirceu e Carvalho figuram como "averiguados". Os demais são testemunhas: Paulo Frateschi, presidente do PT paulista (4 de maio); a ex-mulher de Daniel, Miriam Belchior (8 de maio); o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Junqueira (10 de maio); Valério (12 de maio) e o doleiro Toninho da Barcelona (16 de maio).

O advogado de Dirceu, José Luis de Oliveira, aguarda o "conhecimento formal" da portaria para se posicionar. Mas afirmou que o ex-ministro "vai prestar depoimento em todas as instâncias legais".

Por sua assessoria, Valério afirmou que não vê problema em depor, mas seu advogado, Marcelo Leonardo, disse não ter recebido nenhum comunicado oficial. Miriam não foi localizada e os demais foram contatados, mas não deram resposta até o fechamento da edição.