Título: Senado já tem assinaturas para instalar 'CPI do Lula'
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Nacional, p. A6

Almeida Lima protocolou requerimento com 34 nomes para investigar família do presidente e as relações com o amigo Paulo Okamotto

Mal terminou a CPI dos Correios e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou-se no principal alvo da oposição no Senado, com o pedido de criação de uma nova comissão parlamentar de inquérito (CPI).

O senador Almeida Lima (PMDB-SE) protocolou ontem na Mesa do Senado requerimento com 34 assinaturas para a instalação de CPI para investigar a família de Lula e as relações do presidente com Paulo Okamotto, atual presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Batizada de "CPI do Lula", os oposicionistas reconheceram que a nova comissão tem por objetivo desgastar o governo federal e dificilmente irá à frente em um ano eleitoral.

O Palácio do Planalto enfrentará dificuldades caso queira brecar o funcionamento dessa CPI. Afinal, dos 34 senadores que assinaram o pedido - 12 do PSDB, 13 do PFL, 5 do PMDB, 3 do PDT e 1 do PSOL -, nenhum é aliado do governo. Para a criação de uma CPI no Senado são necessárias 27 assinaturas.

O requerimento lista cinco fatos que serão apurados pela CPI, no prazo de seis meses. "É uma lista de supermercado e não uma CPI", resumiu a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). "Há uma conexão entre os fatos a serem apurados. Mas se o governo quiser, podemos criar cinco comissões de inquérito", rebateu Almeida Lima.

CAUTELA

Apesar de terem assinado o requerimento para a criação da CPI, os senadores de partidos de oposição não apostam no sucesso da nova comissão. "É preciso ter muita cautela para não correr o risco de perder o foco. Muitos dos fatos listados já estão sendo investigados pela CPI dos Bingos e pelo Ministério Público", observou o líder do PFL, José Agripino Maia (RN). "Não fomos eleitos para sermos delegados de polícia", ponderou o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN).

As 34 assinaturas do requerimento deverão ser conferidas hoje pela Mesa Diretora do Senado. O pedido será, então, lido pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e depois publicado no Diário do Congresso. Os senadores podem retirar suas assinaturas do pedido e, dessa forma, inviabilizar a criação da CPI, até a meia-noite do dia que antecede sua publicação no Diário do Congresso.

FATOS

Almeida Lima relacionou 5 fatos específicos para serem investigados pela CPI do Lula. No primeiro item, ele pede a apuração da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, na Caixa Econômica Federal. Em seguida, propõe que seja investigada a relação entre Paulo Okamotto e o presidente Lula.

Okamotto, que foi tesoureiro de campanhas petistas e é amigo de Lula, teria pago uma dívida de R$ 29,4 mil do presidente com o PT. Este fato já está sendo investigado pela CPI dos Bingos, que já aprovou duas vezes a quebra do sigilo bancário de Okamotto, mas não pôde ter acesso aos dados por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

O requerimento também prevê a apuração da relação de Fábio Luiz Lula da Silva, filho do presidente da República, com a Telemar. A empresa de telefonia comprou ações da Gamecorp, que é de propriedade de Fábio Lula, por R$ 5 milhões.

A nova comissão de inquérito deve ainda apurar o eventual tráfico de influência de familiares do presidente. O requerimento cita o caso do irmão Genival Inácio da Silva, conhecido como Vavá, que teria tentado intermediar demandas de empresários junto a estatais.

Por último, o requerimento da CPI do Lula quer investigar a origem e o destino dos US$ 100 mil encontrados na cueca do assessor parlamentar José Adalberto Vieira da Silva, no ano passado. José Adalberto era assessor do deputado petista do Ceará José Nobre Guimarães, que é irmão do ex-presidente do PT José Genoino.