Título: Anac recua e diz que não vetou venda da VarigLog
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Economia & Negócios, p. B20,21

Para presidente da agência, ainda há saída para a Varig

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mudou o discurso em relação à venda da VarigLog para a Volo do Brasil. Ontem, o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, convocou a imprensa para esclarecer que o órgão não rejeitou a venda, apenas não a autorizou por falta de documentação. A Anac deu um prazo de 15 dias para a Volo entregar os documentos pendentes, entre eles uma certidão referente ao pagamento de débitos com o INSS.

Sócia brasileira do fundo de investimentos Matlin Patterson, a Volo comprou a subsidiária de logística do Grupo Varig em 2005 por US$ 48 milhões. Recentemente, a Volo, por meio da VarigLog, fez uma oferta de US$ 400 milhões pela Varig que é considerada por muitos como a única saída viável para a empresa.

"A Volo nos comunicou hoje (ontem) que já providenciou o documento. No momento em que a agência receber, nos reunimos de novo e aprovamos", afirmou o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, que esteve reunido com representantes da Volo no Rio de Janeiro. A assessoria da VarigLog insiste, porém, que a documentação que estaria pendente foi entregue ao antigo DAC, no Rio, e que, por "razões burocráticas" a diretoria da nova Anac ainda não havia tomado conhecimento.

O presidente da Anac sinalizou que o fato de um dos controladores do consórcio Volo ser um fundo estrangeiro não será impedimento para a aprovação da compra da VarigLog. Este era um dos questionamentos do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), que chegou a entrar com uma reclamação formal no órgão. Segundo ele, a Volo tem mais de 80% de seu capital formado por investidores nacionais, como determina a lei brasileira.

O presidente da Anac se mostrou confiante numa solução para a crise financeira da Varig e afirmou que a empresa opera com segurança. "Podemos dizer que se o passageiro quiser voar numa empresa segura, pode voar Varig. A fiscalização está intensa e a empresa tem uma cultura de segurança muito grande."

O executivo disse quehá muita cobrança sobre o desempenho da Varig, mesmo quando ela melhora em itens como a pontualidade de seus vôos. que melhorou em março. "Se houve um atraso em um avião da Varig é notícia. Se for em outra companhia, não", argumentou. Para Zuanazzi, a falência da Varig não é boa para o setor. "A empresa é uma importante marca do Brasil no exterior."

O recuo da Anac aconteceu depois de uma intervenção da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Segundo fontes em Brasília, na noite de anteontem, depois da divulgação do comunicado da Anac com o veto à venda da VarigLog para a Volo, a ministra convocou a diretoria da Anac e repreendeu seus quatro diretores. Como resultado, o discurso do presidente da Anac e da ministra estavam bem afinados ontem, ambos preocupados em tranqüilizar os passageiros.

MERCADO O veto da Anac à venda da VarigLog para a Volo, ontem desmentido, serviu para acabar com qualquer resto de otimismo do mercado financeiro em relação à Varig. Pelo menos três bancos de investimentos - UBS, Bear Stearns e Merryll Lynch - elevaram ontem suas recomendações de compra de papéis das concorrentes TAM e Varig com base em prognósticos sombrios para a Varig. Como resultado, os papéis das duas aéreas se valorizaram fortemente ontem.