Título: Consultoria vai assumir gestão
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Economia & Negócios, p. B20,21

Justiça determina que a Alvarez&Marsal ficará responsável pela administração da companhia aérea

A consultoria americana Alvarez&Marsal - que já atuou na reestruturação de empresas como USAirways e Aeroméxico - deverá assumir a gestão da Varig. Ainda não há prazo definido para a mudança no comando da empresa. Poderá acontecer nos próximos dias ou em algumas semanas. Na prática, a medida é uma tentativa de dar um "choque de credibilidade" junto ao mercado, segundo fontes que acompanham de perto a situação da empresa.

A medida estava prevista para acontecer durante o processo de reestruturação da empresa. Mas será antecipada em função do delicado quadro financeiro da Varig.

A antecipação da mudança foi requerida pelo fundo de pensão Aerus há duas semanas junto à 8.ª Vara Empresarial. O Ministério Público (MP) deu parecer favorável e o juiz que conduz o processo, Luiz Roberto Ayoub, deferiu o pedido.

Segundo o MP, o requerimento previa a "antecipação da gestão profissional da companhia" e não havia motivo para adiar medidas administrativas que propiciem sua efetiva recuperação.

Na prática, a Alvarez deverá indicar o Conselho de Administração da Varig e a diretoria da empresa.

A hipótese mais provável, segundo fontes ligadas ao processo, é que o diretor-geral da Alvarez&Marsal Brasil, Marcelo Gomes, venha a se tornar o principal executivo da Varig. A firma já havia sido indicada pelos credores e vinha trabalhando no plano de reestruturação. Uma fonte diz que para conduzir o processo a consultoria terá de ocupar postos-chave na companhia, como os de diretor-presidente e diretor-financeiro.

Procurada, a Alavarez&Marsal limitou-se a confirmar a existência da decisão. Já o diretor-presidente da Varig, Marcelo Bottini, não comentou o assunto. Bottini tem tido papel considerado relevante na reestruturação e é o gestor interino no processo de recuperação. Por isso, segundo uma fonte, ele poderia permanecer na diretoria da companhia, mas em outro cargo.

No parecer, o MP registra que "não se imputa à diretoria atual quaisquer atos ou condutas que levariam ao seu afastamento por força dos artigos 64 e seguintes da Lei 11.101". Os artigos da lei enumeram casos de problemas que poderiam levar ao afastamento de executivos, o que não é o caso, conforme o parecer do MP. E explica que o pedido do fundo foi feito frente à necessidade de agilizar a recuperação, para evitar uma solução de continuidade.

No despacho, o juiz diz que não se trata de aplicar o mesmo artigo, mas sim "agilizar o cumprimento do plano de recuperação judicial". Na mesma decisão, o juiz concorda com o parecer do MP, que solicita acelerar a entrada das ações da Fundação Ruben Berta (FRB) no Fundo de Investimento e Participação (FIP-Controle), que está sendo criado, para receber aportes de investidores e a conversão de créditos em participação acionária.

O Banco Brascan será o administrador do fundo, que ainda não está em operação. Uma fonte comenta que o banco teria aceitado as indicações da Alvarez para o Conselho de Administração e a diretoria da empresa.

Outra medida importante para a Varig acabou não ocorrendo ontem. Esperava-se que o fundo de investimentos americano Matlin Patterson adiantasse recursos para a companhia em troca de compromisso de receber receitas futuras da empresa. Mas teria surgido uma dúvida se esses recursos seriam considerados um ativo, que estaria bloqueado pela ação na Justiça do Trabalho que arrestou os bens da empresa.