Título: 'A Varig precisa de proposta séria'
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Economia & Negócios, p. B20,21

Ministro da Defesa, Waldir Pires, diz que oferta de compra feita pela VarigLog não tem consistência

O ministro da Defesa, Waldir Pires, disse ontem que só haverá solução para a crise financeira da Varig quando aparecer uma proposta empresarial "consistente e séria". O ministro criticou ontem, pela primeira vez, a oferta de compra da companhia aérea pela VarigLog, controlada pela empresa Volo.

"Há questões dessa proposta que estão sem clareza de serem viabilizadas, na medida em que não assumem as responsabilidades totais sobre os passivos", afirmou o ministro, após participar da cerimônia de comemoração do Dia do Exército, no Quartel General em Brasília.

Pires se referiu ao fato de que, pela proposta da VarigLog, seria comprada a parte operacional da Varig por US$ 400 milhões, deixando as dívidas - calculadas entre R$ 7 bilhões e R$ 10 bilhões - fora da negociação.

O ministro, que assumiu há menos de um mês a pasta da Defesa, à qual se subordina a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), ressaltou que não houve até agora um posicionamento concreto da empresa interessada sobre o que acontecerá com esse passivo. "E isso não está na alçada legal do governo resolver", afirmou.

A afirmação do ministro coloca em dúvida a única oferta concreta feita para a compra da Varig. Controlada pelo fundo de investimentos americano Matlin Patterson e por sócios brasileiros, a VarigLog apresentou a proposta na semana passada. Desde então, recebeu críticas dos credores e funcionários da Varig, mas foi a primeira vez que um ministro desqualificou a oferta em público.

Waldir Pires tentou, no entanto, manter um discurso otimista quanto ao destino da empresa aérea, afirmando que a Varig tem um patrimônio importante e conta com a ajuda do Poder Judiciário na sua tentativa de recuperação. "Mas, alguma coisa séria, que tenha consistência e que mereça confiança, ainda não apareceu", reiterou.

Pires afirmou ainda que o governo acompanha de perto o assunto porque tem o dever de garantir os slots (espaços nos aeroportos para pousos e decolagens) do País em todos os aeroportos do mundo onde a Varig opera. "Isso é patrimônio da empresa e também do País."

Waldir Pires fez ainda restrições à proposta feita pela Varig aos credores estatais para obter um prazo para não pagar suas dívidas e recolher as tarifas devidas, como as aeroportuárias à Infraero e o combustível à BR Distribuidora. Ele alertou que isso tem que ser visto com muito cuidado porque pode trazer problemas para os dirigentes das estatais.

"Se as empresas não executarem seu trabalho de cobrança, ficarão os seus diretores suscetíveis de irem para a cadeia, serem apontados como prevaricadores e de não cumprirem o seu dever", afirmou. Além disso, acrescentou, outras companhias aéreas poderiam cobrar tratamento semelhante.

MANIFESTAÇÕES O governo está dando sinais que não vai atender à pressão da direção e dos funcionários da Varig por alguma ajuda, seja por uma trégua nas cobranças das estatais, financiamento do BNDES ou apoio para que a empresa fique nas mãos de seus empregados. Ontem, os funcionários voltaram a protestar.

Em Porto Alegre, aeromoças e funcionários de terra se uniram aos servidores do Hospital Nossa Senhora Conceição e realizaram um protesto na porta do hospital, onde o presidente Lula foi inaugurar o novo pronto-socorro.

Nesta semana, já houve também manifestações no Rio de Janeiro. Cem funcionários abraçaram o prédio do Tribunal Regional do Trabalho, que havia concedido liminar - já derrubada - determinando a separação dos ativos da Varig.