Título: Nacionalização pode ter impacto no petróleo em 2 a 3 anos, dizem sauditas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

A Arábia Saudita, detentora da maior reserva de petróleo do mundo, alerta que a decisão da Bolívia em nacionalizar seus recursos energéticos levará entre dois e três anos para ter um impacto no preço internacional do combustível.

A Agência Internacional de Energia (AIE) alertou que, por enquanto, o decreto boliviano não teria impacto no equilíbrio do mercado internacional de gás, especialmente porque a Bolívia exporta apenas para a região. Mas, numa análise feita pelos sauditas, o impacto não seria causado diretamente pela Bolívia, mas pelos países que hoje importam gás, como Brasil, que teriam de buscar outra forma de abastecer sua economia nos próximos anos.

"A médio prazo a medida tomada em La Paz poderia criar uma maior busca pelo petróleo por parte dos países da região que hoje contam com o gás boliviano. Essa volta ao petróleo poderia ocorrer gradualmente, mas acabará tendo impacto em dois ou três anos no preço internacional do combustível", afirmou Mohamed Al-Jasser, vice-governador do Banco Central da Arábia Saudita.

ESPANHA E ARGENTINA

Quem está preocupado com a situação boliviana é o presidente do BC espanhol, Jaime Caruana. "Essa decisão (de nacionalizar) nos afeta de forma muito negativa", afirmou. A empresa espanhola Repsol foi uma das atingidas pelo decreto do governo de Evo Morales.

Já os argentinos querem evitar que eventuais efeitos do aumento do preço do gás diante da decisão boliviana de nacionalizar os campos de gás e petróleo sejam traduzidos numa pressão para a inflação.

Para o presidente do BC argentino, Martin Redrado, a medida boliviana ainda não teve impacto sobre a inflação. "Não se pode especular sobre o que vai ocorrer com os preços. Isso não seria bom. Vamos ver ainda qual será o final desse processo. A inflação no Brasil está muito bem controlada e os problemas de preço na Argentina não têm nenhuma relação com Bolívia."

"Um impacto ocorreria numa primeira instância em áreas localizadas. O que temos de estar atentos, porém, é para impedir que a política monetária e a política de entrada de recursos ou a política fiscal sejam afetadas em um segundo instante", disse Redrado.