Título: Sabatina da OMC ataca política comercial chinesa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Economia & Negócios, p. B14

Países querem abertura da China, que está ganhando com o livre comércio

A política comercial da China é duramente atacada e as principais potências mundiais pedem que Pequim pague pelos ganhos que vem obtendo no mercado internacional, derrubando suas barreiras de importação. A Organização Mundial do Comércio (OMC) iniciou ontem a primeira sabatina sobre a política chinesa e alertou que, apesar dos avanços nas reformas econômicas no país, muito ainda precisa ser feito. Já o Brasil preferiu adotar um tom positivo em relação a Pequim, ainda que tenha indicado a necessidade de o país assumir suas "responsabilidades" e promover maior integração nos mercados mundiais.

A sabatina é uma oportunidade não apenas para que as leis de um país sejam avaliadas, mas também para que outros governos questionem eventuais barreiras. Os chineses, que ingressaram na OMC apenas em 2001, receberam mais de 1,1 mil questões e críticas de vários países. Pelos cálculos da entidade, se o ritmo de crescimento das exportações chinesas for mantido como nos últimos quatro anos, Pequim será o maior exportador do mundo em 2010, superando os Estados Unidos e a Alemanha.

Mas o ranking do país não mede sua estrutura comercial. Segundo a OMC, as reformas econômicas feitas por Pequim têm trazido resultados "impressionantes", mas ainda permanecem desafios. A OMC alerta que o governo continua a intervir no comércio com leis que protegem fornecedores e barreiras ao setor de serviços precisam ser retiradas, principalmente no mercado de capitais.

Entre os países, quem mais atacou os chineses foram os Estados Unidos. A mensagem foi clara: a China já ganhou muito com a abertura de outras economias e precisa compensar com a liberalização de seu mercado.

"A China tem a responsabilidade de abrir seu mercado, já que está se beneficiando do livre comércio no mundo. Agora é a vez deles", afirmou Peter Allgeier, embaixador dos Estados Unidos na OMC. As queixas americanas são dirigidas contra as barreiras para a entrada de autopeças, aço, serviços, a defesa de propriedade intelectual e medidas fitossanitárias.

Já a União Européia (UE) alertou para um "entusiasmo decrescente" na China em relação à abertura e disse que há "sinais preocupantes" do fortalecimento de políticas discriminatórias na China. Para os europeus, está na hora de os chineses pensarem nas condições de trabalho no país.

Os chineses responderam às críticas argumentando que são seus produtos, baratos na maioria, que permitem que algumas economias possam manter taxas de inflação baixas. Além disso, estão dispostos a debater sua relação comercial com outros países. O objetivo, porém, não seria o de limitar suas exportações, mas "equilibrar" o fluxo de comércio.

Para o vice-ministro do Comércio da China, Yi Xiaozhun, o crescimento de seu país e a abertura de seu mercado possibilitaram certa estabilidade à economia mundial nos últimos anos. Segundo ele, existem 280 mil empresas estrangeiras investindo hoje na China