Título: Hu diz que a China precisará de 2 mil aviões em 15 anos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Economia & Negócios, p. B14

Presidente chinês dá a entender que a Boeing terá centenas de encomendas

No segundo dia de visita aos Estados Unidos, o presidente da China, Hu Jintao, disse ontem, na sede da Boeing, que o seu país precisará de milhares de aviões comerciais nos próximos anos. Terça-feira, ele confirmou a compra de 80 Boeings 737, no valor de US$ 5,2 bilhões, entre outros produtos e serviços americanos, na tentativa de acalmar o governo dos EUA, que não pára de reclamar da desvalorização artificial do yuan, que facilita a venda de artigos chineses. Isso contribui para o gigantesco déficit comercial americano em relação ao país asiático - de US$ 202 bilhões só no ano passado.

Em discurso aos diretores e empregados da fábrica da Boeing em Everett, a 50 quilômetros da maior cidade do Estado de Washington, Hu disse que nos próximos 15 anos a China precisará de 2 mil aviões comerciais novos.

"A cooperação da Boeing com a China é um exemplo vivo da cooperação benéfica mútua e da atitude vencedora que a China e os Estados Unidos conseguiram com o comércio. Isto indica um brilhante futuro para a cooperação entre a Boeing e a China", acrescentou. Pelos cálculos da fabricante americana, os chineses precisarão de 2.600 aviões comerciais novos nos próximos 20 anos.

A expectativa pela visita era grande entre os empregados. O engenheiro Craig Thompson comentou: "A China é um dos maiores mercados para a Boeing. O homem (Hu) está vindo aí. Quero ouvir o que ele tem a dizer".

O líder chinês visitou três linhas de montagem da fábrica e ouviu explicações sobre o novo Boeing 787, que a companhia descreve como "um avião supereficiente".

De manhã, Hu visitou o bairro chinês de Seattle, onde foi saudado pela comunidade. Muitos escolares agitavam bandeiras dos dois países. Mas membros da seita espiritual Falun Gong tiveram de fazer seu protesto a quatro quarteirões do hotel de Hu, localizado no centro da cidade. A seita foi banida da China em 1999. Segundo Pequim, a Falun Gong é "um instrumento do mal".

À tarde, Hu embarcou para Washington, onde iria se reunir com o presidente Bush. O principal tema do encontro seria uma solução para a crise iraniana. Os Estados Unidos esperam que a China use sua influência para convencer o Irã a não desenvolver um programa de armas nucleares.

BILL GATES E PROTESTOS Terça-feira, Hu visitou a sede da Microsoft no bairro de Redmond. Na entrada, ele viu cartazes escritos em inglês e em mandarim que diziam "Pare de censurar a internet" e "Liberte todos os prisioneiros políticos".

Ele jantou na casa do dono da Microsoft, Bill Gates, em companhia de muitos executivos e do governador de Washington, Chris Gregoire. O jantar reuniu cerca de 100 pessoas, que Gates distribuiu em 10 mesas.

Hu disse ao governador Gregoire que decidiu iniciar a visita aos EUA pela principal cidade de Washington (a capital é Olympia) "porque o seu Estado tem relações muito boas com o meu país". A China é o terceiro mercado exportador para os produtos de Washington.

Depois, disse a Gates que o seu país está fazendo um sério esforço para combater a pirataria de produtos americanos, incluindo os softwares desenvolvidos pela Microsoft. "Como o Sr. é amigo da China, eu sou amigo da Microsoft. Eu mesmo uso todos os dias o sistema operacional desenvolvido pela sua empresa", afirmou, provocando sorrisos.

Gates respondeu: "Obrigado. Se um dia o Sr. precisar de orientação sobre o uso do sistema Windows, terei prazer em lhe dar".

Hu agradeceu a hospitalidade e o bom gosto do anfitrião. O jantar incluiu galinha de angola defumada e filé mignon. O champanhe era Don Perignon.