Título: Economista vê perigo real no protecionismo
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Economia & Negócios, p. B13

Raghuran Rajan, do FMI, condena o 'nacionalismo econômico'

Com a conclusão da Rodada Doha posta em risco pela resistência da União Européia (UE) em fazer cortes reais nos subsídios agrícolas, e diante de recentes manifestações de nacionalismo econômico na França e mesmo nos Estados Unidos, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Raghuram Rajan, advertiu ontem que "o protecionismo é um perigo real" para a economia mundial, ao apresentar um panorama geralmente favorável da economia global para este ano.

Segundo o alto funcionário do FMI, o forte ritmo da globalização do setor privado provocou uma reação do setor público. "Alguns governos vêem seu papel cada vez mais como o de servir aos interesses de grupos vociferantes e obstruir a mudança, em lugar de aceitá-la", disse Rajan.

Numa clara referência à França, que resistiu recentemente à aquisição de uma empresa de eletricidade por companhias européias, o economista lembrou que "o patriotismo econômico é o velho vinho do protecionismo numa nova garrafa mal rotulada, mas é mais perigoso num mundo mais interconectado". Ele disse que devem ser "fortemente, totalmente condenadas" políticas de ganhar tudo que alguns países estão contemplando na conta de capital, pelas quais grandes parcelas de suas economias ficam protegidas contra aquisições corporativas enquanto suas próprias companhias tiram vantagem da abertura de outras economias.

"As pessoas tendem a descartar isso como infrações menores, ou areia nas engrenagens da globalização", afirmou Rajan. "A História, porém, sugere que a distância entre o patriotismo econômico e o patriotismo desenfreado é pequena".

Ele disse ainda que acompanha com apreensão os relatos da imprensa sobre a improbabilidade da conclusão das negociações da Rodada Doha antes do prazo de abril de 2007. "Prazos foram perdidos antes, mas mantenho a esperança de que o bom senso prevalecerá". Segundo o economista-chefe do FMI, "um fracasso da Rodada Doha, embora não catastrófico, seria um importante retrocesso e , somado aos ruídos protecionistas que estão surgindo, contribuiria para um forte ânimo antiglobalização".

"Precisamos lembrar que a boa fortuna que temos hoje deve-se às forças da globalização", disse Rajan. "Por causa de um mercado mundial de bens integrado, conseguimos manter a inflação baixa; por causa da integração da poupança, temos taxas de juros baixas". Para ele, "a volta do protecionismo colocaria a perder muitos dos benefícios obtidos".