Título: 'Doses homeopáticas não curam letargia econômica'
Autor: Renée Pereira ,Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

Para presidente da Fiesp, Paulo Skaf, corte de 0,75 ponto tem pouco efeito na produção e no consumo

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) não surpreendeu empresários da indústria e do comércio, que consideram o corte de 0,75 ponto porcentual na Selic insuficiente para estimular a produção e o consumo. "Doses homeopáticas não curam a letargia econômica", afirmou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Segundo ele, a redução anunciada ontem tem pouco efeito, porque a taxa básica de juros continua muito elevada. "Seus reflexos práticos no mercado são imperceptíveis e demoram muito para chegar ao orçamento dos consumidores e às planilhas de custos das empresas."

Para Skaf, não se justifica a atitude extremamente cautelosa do Copom, levando-se em conta que a inflação está sob controle. "Os índices de preços de março confirmaram o caráter temporário das pressões do início do ano, reforçando as perspectivas de queda da inflação nos próximos meses."

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, lamentou a decisão do Copom de não acelerar o ritmo da redução da Selic. "A queda no risco país, a inflação convergindo para a meta e a atividade econômica em trajetória de expansão justificariam uma queda mais expressiva dos juros." Monteiro Neto frisou que, mesmo com a redução de ontem, os juros reais ainda estão muito altos, acima de 11% ao ano.

"A redução da Selic para 15,75% ao ano não causa nenhuma emoção", disse Boris Tabacof, diretor do departamento de economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Para ele, uma surpresa seria uma redução mais agressiva, entre 1 e 1,5 ponto porcentual. "Como demonstra a queda de 28% nos desembolsos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) no primeiro trimestre, com esse patamar de juros seguiremos à base do stop and go. Crescimento sustentado é ficção com uma taxa real de juros acima de dois dígitos."

O comércio já prevê um aumento na procura por crediário com a nova redução da taxa Selic. "A oferta de crédito já está ampla e deve subir mais com queda nas taxas, beneficiando as vendas. Mas ainda assim o cenário é preocupante porque a inflação está em queda e a política de juros continua restritiva. A conclusão é gastança à vista e ausência de austeridade fiscal em ano de eleição", diz o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos. Para ele a decisão do Copom era esperada pelo mercado, embora os indicadores de inflação e do nível de atividades permitissem uma queda mais acentuada.

Já o presidente da Fecomércio, Abram Szajman, considera positiva a redução de 0,75 ponto porcentual da taxa Selic. Porém afirma que o mais importante é a taxa chegar ao fim do ano em um dígito, em termos reais. "O Copom poderia ter optado por 1 ponto percentual já nesta reunião, mas mesmo o corte de 0,75 ponto porcentual pode ser considerado adequado, desde que a trajetória de queda gradual seja mantida."

Para Érico Ferreira, presidente da Acrefi, entidade que representa as financeiras, o corte ficou dentro do esperado e vai estimular o consumo. "Ainda que a redução na prestação não seja perceptível para o consumidor, a notícia da queda é muito positiva e a venda a crédito deve ser ampliada."