Título: Copom baixa juro para 15,75%, a menor taxa desde m
Autor: Renée Pereira ,Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

Decisão unânime confirma aposta do mercado financeiro, mas contraria empresários que defendem corte maior

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu em 0,75 ponto porcentual a taxa básica da economia (Selic), para 15,75% ao ano - o menor nível desde março de 2001. A decisão, unânime e sem viés, mais uma vez confirmou a aposta do mercado financeiro, mas contrariou o setor produtivo. Para os empresários, o corte ainda não é suficiente para retomar o crescimento da produção de forma sustentada. Com o resultado de ontem, o juro real brasileiro caiu para 11,1%, ainda o maior do mundo.

No comunicado divulgado após a reunião, o Banco Central explicou a decisão com a frase dos encontros anteriores. Mas, desta vez, incluiu também uma certa preocupação com o cenário macroeconômico: "Dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária, iniciada na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu por unanimidade reduzir a taxa Selic para 15,75%, sem viés, e acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até a sua próxima reunião para, então, decidir os próximos passos na sua estratégia de política monetária."

Na avaliação do economista, Alexandre Póvoa, sócio da Modal Asset Management, a frase incluída na nota do Copom pode ter um viés negativo e significar preocupação com o cenário externo. Ele destaca que, embora a inflação esteja comportada no curto prazo, as commodities metálicas subiram 25% entre a última reunião e a de ontem. Isso pode ter impacto nos índices de preços.

Além disso, o economista acredita que o cenário mundial está menos favorável comparado ao ano passado. "Era maravilhoso e agora está bom", resume ele, que considera que o espaço para um corte mais expressivo da Selic, em torno de 1 ponto porcentual diminuiu.

Na opinião do economista-chefe do Banco Santander, André Loes, o Copom pode reduzir a intensidade dos cortes na Selic já a partir da próxima reunião, em maio. Segundo ele, os dirigentes do BC podem optar por uma redução de apenas 0,5 ponto porcentual e não de 0,75 ponto como espera boa parte do mercado financeiro. O executivo destaca que o BC sempre se mostrou preocupado com os efeitos de defasagem das decisões do Copom na economia. Isso significa que talvez os dirigentes queiram esperar um tempo para ver os efeitos dos últimos cortes da Selic na economia, avaliam os analistas.

O economista do Banco Real, Jankiel Santos, concorda. Segundo ele, as últimas atas mostram a preocupação quanto ao estímulo que já foi dado desde que os juros estavam em 19,75% ao ano, em agosto de 2005. Apesar disso, ele acredita que o BC ainda fará mais um corte de 0,75 ponto na próxima reunião. Depois disso, a autoridade monetária iniciaria um ciclo de reduções menores de 0,5 e 0,25 ponto porcentual. "Eles estão entrando em terreno desconhecido. Por isso, vão usar a cautela." O Banco Real aposta em uma Selic na casa de 14% ao ano, o que seria uma das menores taxas da história do País.

Os planos, no entanto, podem ser atrapalhados pelo cenário externo, com elevação rápida dos juros americanos. Mas esse risco ficou menor esta semana com a sinalização do Federal Reserve (Fed, o BC americano) de que o ciclo de aperto monetário está próximo do fim.