Título: Sindicato critica pressão sobre Anac
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2006, Economia & Negócios, p. B13

Empresas aéreas não gostaram da interferência de Dilma na agência

O Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea) criticou ontem a interferência do governo federal nos trabalhos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Foi uma resposta das companhias aéreas à interferência da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na Anac. Dilma teria repreendido a diretoria da agência por ter divulgado uma nota vetando a operação de venda da VarigLog para a Volo. Se o negócio não sair, a VarigLog não pode confirmar sua proposta de compra da Varig.

Instaurada há um mês, a Anac é, em tese, independente do governo, ainda que tenha sido criada em substituição ao Departamento de Aviação Civil (DAC), ligado ao Ministério da Defesa. Dos quatro diretores já empossados da Anac, dois, incluindo seu diretor-presidente, Milton Zuanazzi, foram indicados pela ministra. A segunda indicação de Dilma é a diretora Denise Ayres de Abreu.

Após o "pito" da ministra, a Anac convocou a imprensa e mudou seu discurso. Ao invés do veto, a agência afirmou que apenas suspendeu a operação até que as partes encaminhem a documentação necessária. Apesar de alegar que a falta de documentos impedia o julgamento, Zuanazzi disse que a compra da VarigLog pela Volo não fere a legislação que limita em 20% a participação do capital estrangeiro em companhias aéreas. A decisão só era esperada ao final do processo. Os concorrentes levantam a suspeita de que o principal comprador da VarigLog seria o fundo de investimentos americano Matlin Patterson, sócio da Volo.

Na nota distribuída ontem, o Snea critica duramente Zuanazzi por se manifestar favoravelmente à operação antes mesmo de receber toda a documentação. O Snea é contra a operação. O diretor, diz a nota, teria emitido "opinião pessoal" e feito "prejulgamento" antes da análise do respectivo processo. É a segunda vez que a Anac e o Snea batem de frente. Há pouco mais de um mês, Zuanazzi desagradou as empresas aéreas ao afirmar ser favorável à abertura do mercado doméstico a estrangeiros.