Título: Defesa tenta preservar vagas da Varig em aeroportos mundiais
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2006, Economia & Negócios, p. B13

Situação complicada da companhia aérea coloca em risco a presença externa conquistada ao longo de décadas

O ministro da Defesa, Waldir Pires, disse ontem que o governo federal está preocupado com a preservação das freqüências e espaços das empresas aéreas brasileiras (chamados slots) nos aeroportos em todo mundo. Essa preocupação está diretamente ligada à crise financeira da Varig. A companhia aérea detém cerca de 75% das rotas internacionais do País. O governo não quer ter perder essas rotas se a Varig parar de voar.

Pires vai realizar uma reunião com o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, para discutir o assunto, propondo um plano estratégico que garanta a manutenção dos contratos de aeronaves e, assim, os slots brasileiros. O ministro não antecipou detalhes da idéia.

A reunião chegou a ser marcada para ontem, mas acabou sendo adiada para a semana que vem. De acordo com a assessoria do ministro, a direção da Anac pediu mais tempo para debater internamente o assunto e poder conversar com Waldir Pires. "O governo quer preservar todos os slots, no Brasil e no mundo, porque esse é um patrimônio da empresa, mas também do País", comentou Pires.

Ele destacou que o governo precisa se preocupar em garantir a igualdade entre as quantidades de vôos realizados pelas companhias aéreas estrangeiras para o Brasil e aqueles realizados pelas empresas nacionais para outros destinos. Os números de vôos recíprocos a serem realizados é negociado sempre entre os países quando renovam seus acordos bilaterais. Até junho deste ano, a Anac e o Ministério das Relações Exteriores vão discutir acordos do Brasil com oito países. A Anac, que completa hoje exatamente um mês de funcionamento, substituiu o antigo Departamento de Aviação Civil (DAC) como órgão regulador e fiscalizador do mercado aéreo. A agência é vinculada ao ministério da Defesa. Sobre a situação financeira da Varig e uma possível solução para sua crise, Pires voltou a dizer hoje que é preciso haver uma "proposta empresarial séria". Somente assim, ele vê possibilidade de haver uma negociação, com financiamento do BNDES, por exemplo, porque haveria garantias à instituição financeira. "O governo apóia a Varig, que foi um patrimônio de presença do Brasil no mundo e torce para ela possa vir a ser preservada. O governo, no entanto, só pode gastar dinheiro público na forma da lei. Não pode fazer fora da lei."

TRÉGUA A expectativa em Brasília é que a crise da Varig dê uma trégua nos próximos dias e volte a ser tratada após o feriado. Nos aeroportos, a companhia também teve um dia mais tranqüilo, com menos problemas de atrasos.

Houve mais agitação nos protestos dos funcionários da Varig, como o que ocorreu pela manhã no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, do que nos balcões da empresa. Mesmo com o aumento de 30% em relação aos dias anteriores, o movimento no check-in da Varig está baixo. "Melhorou na véspera do feriado, mas está muito aquém do que gostaríamos", disse Edevaldo Chechetto, gerente da Varig no Aeroporto. O balcão da Varig tinha menos da metade do movimento das concorrentes Gol e TAM. Segundo o gerente, o movimento caiu cerca de 4% em relação a março.

Até o final da tarde de ontem, nenhuma das 52 partidas programadas havia sido cancelada. Ocorreram três atrasos ao longo de todo o dia. Entre os passageiros, a maioria voltando de compromissos de trabalho, houve poucas reclamações. A terapeuta Lucy Cintra, que voaria para Curitiba, chegou no aeroporto com duas horas e meia de antecedência. "Tive receio de overbooking, ou de cancelamento de vôos", diz. "Mas não tive problema." Já o engenheiro Tang Sheng teve problemas com um vôo com destino a Florianópolis. Programado para sair às 17h50, acabou sendo antecipado e saiu às 16 horas. "Cancelamentos acontecem", disse Sheng.