Título: Lula nega opção por padrão japonês
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2006, Economia & Negócios, p. B8

Presidente ainda não tem decisão sobre a TV digital: 'Estamos conversando com muita tranqüilidade'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o governo ainda vai decidir, com "muita tranqüilidade", o padrão de tevê digital que o País vai adotar. Apesar de parte do governo já ter comemorado o que parecia ser um acordo com o Japão, Lula afirmou que o governo ainda está dialogando. "Estamos conversando. Com muita humildade, com muita tranqüilidade, sem bravata. Vamos ter de medir cada passo para, o que quer que a gente faça, seja benéfico para o Brasil daqui a cinco, 10 ou 20 anos", afirmou o presidente, durante discurso na formatura dos novos diplomatas, no Palácio do Itamaraty.

Lula deixou claro que o Brasil pretende ter uma fábrica de semicondutores e que o acordo de adoção do padrão digital - hoje uma disputa entre os sistemas americano, europeu e japonês - vai levar em conta a instalação de uma fábrica no País.

"Nós queremos ter, neste País, a capacidade de termos um parque de semicondutores para que a gente possa, através da microeletrônica, se transformar numa nação tão importante quanto eles (Europa, Japão e Estados Unidos) já são", afirmou o presidente. "E nós só iremos fazer isso se tivermos sabedoria de aproveitar o momento político para negociar, e estamos conversando. O Brasil está sendo procurado, todo dia alguém quer que o Brasil visite um país, uma fábrica."

Atualmente, o Brasil importa 85% de todos os componentes de fabricação das tevês mais modernas. No meio da disputa entre os tipos de padrão digital que existem, o governo decidiu condicionar a escolha a adoção de um deles em troca na promessa de instalação de uma fábrica de semicondutores no País.

Na semana passada, em uma visita ao Japão, os ministros das Comunicações, Hélio Costa, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, e das Relações Exteriores, Celso Amorim, assinaram um memorando em que o governo japonês se compromete a colaborar para o desenvolvimento de uma fábrica no Brasil, mas não garantem a instalação de uma fábrica.

Ontem, Costa fez um relato da viagem ao presidente, no Palácio do Planalto, mas saiu sem dar informações à imprensa.

Já os europeus se comprometeram a assinar um acordo de construção de uma fábrica no Brasil se o governo brasileiro enviar uma representação à Europa para negociar.

O padrão japonês tem sido defendido pelas empresas de rádio e tevê do Brasil e é o preferido por Hélio Costa. Há algumas semanas, Costa chegou a dizer que o japonês era o melhor modelo para o País.

De lá para cá, o governo mudou o tom da discussão e incluiu as exigências da fábrica no pacote. "Era a hora de o Brasil dizer o que queria para fazer parceria, para fazer negócios, para discutir modelos. Era a hora de a gente ver quem está disposto a jogar mais sério com com o Brasil", disse ontem o presidente.