Título: Lula vai a Viena cobrar acordos comerciais
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

Para o presidente, Rodada Doha 'não tem mais debate técnico. Agora, é decisão política'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que vai a Viena, em maio, para a conferência entre representantes da União Européia, da América Latina e do Caribe sobre acordos comerciais. Embora tivesse afirmado que não pretendia viajar para o exterior até o final deste ano, disse que "não resistiu" a duas viagens: a Viena, para encontro do G8, grupo dos países mais ricos do mundo, e a São Petersburgo, na Rússia, em julho.

"Estou convencido de que se esgotou o limite técnico para fazer a grande Rodada Doha. Acabou, não tem mais debate técnico. Agora tem de ser decisão política, e decisão política tem de ser tomada pelos presidentes dos países e pelos primeiros-ministros", afirmou o presidente em cerimônia de formatura dos novos diplomatas brasileiros, no Itamaraty.

Lula disse que tem cobrado a participação dos presidentes nas negociações e vai a Viena para reforçar essa cobrança. "Não vamos mais nos esconder atrás dos nossos ministros de Relações Exteriores. Não vamos nos esconder atrás dos negociadores da União Européia."

"Vamos colocar a nossa cara, para saber quem é que quer fazer um mundo mais justo, sem terrorismo, o que não acontecerá se não diminuirmos a miséria que está estabelecida na maioria da humanidade."

COBRANÇA O presidente afirmou que vai a Viena e à reunião do G8 - para a qual foi convidado pelo presidente russo, Vladimir Putin - para cobrar a realização de uma cúpula sobre a Rodada Doha com os presidentes, uma proposta antiga do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

"Eles têm de saber que a decisão agora é política, não é mais técnica. Então eu vou fazer essas duas viagens para ver se a gente consegue mudar isso."

No discurso aos diplomatas que terminaram este ano o curso do Instituto Rio Branco, o presidente defendeu a política externa de seu governo, de aproximação com os Países mais pobres.

"Eu acho que o momento que estamos vivendo de política externa é glorioso. Veja que a balança comercial brasileira cresce muito acima da média da balança comercial mundial, cresce junto aos países pobres, cresce para os Estados Unidos e cresce com a União Européia, mas ela cresce para o Oriente Médio", afirmou, numa tentativa de responder às críticas que são feitas à política externa e comercial do seu governo.

POTENCIAL Lula rebateu ainda as críticas de que a tentativa de negociar com regiões mais pobres não traria benefícios para o País. Afirmou que "cada País tem um potencial". Também respondeu as críticas às decisões de abrir novas embaixadas e reforçar escritórios em outros países, normalmente na África. "É sempre assim que funcionam as coisas no Brasil. Nós estamos sempre nivelando por baixo, estamos sempre apostando na desgraça, estamos sempre apostando na miséria", afirmou.

"É como se você preparasse toda a família para sair no domingo, ir para um lugar bonito, passar um domingo numa cachoeira, e chegasse um vizinho: 'o carro vai quebrar'. No Brasil é assim, o cara não te dá o direito de ser feliz", disse.