Título: China mantém ritmo e cresce 10,2% até março
Autor: Paulo Vicentini
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2006, Economia & Negócios, p. B5

Indústria teve alta de 16,7% e investimentos, 6%

O slogan "diminuir o ritmo e aumentar a qualidade do crescimento" voltou na China. "Queremos mudar o modelo de crescimento, conservar os nossos recursos naturais, proteger o meio ambiente e elevar a qualidade de vida da população", expressou o presidente chinês, Hu Jintao, logo após anunciar que a economia nacional cresceu 10,2% no primeiro trimestre de 2006.

O governo, contudo, deverá enfrentar dificuldades para minimizar até 2010 os efeitos da pragmática fórmula que assentou as bases para um crescimento médio anual de 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB) nas últimas décadas - a perfeita combinação entre sua mão-de-obra barata, os incentivos fiscais para atração de investimentos diretos estrangeiros (IED), investimentos em ativos fixos e a produção orientada ao comércio exterior.

O slogan dos chineses também vem se mesclando com as complexas questões sociais que há muito são debatidas dentro do Comitê Central do Partido Comunista da China (CCPCCh), mas que permanecem sem solução.

"Temos de evitar a formação de uma sociedade profundamente desigual, pois isso ameaça a estabilidade nacional", adverte repetidamente o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao. Segundo ele, a meta de 8% para a expansão do PIB neste ano e de uma taxa média de 7,5% nos anos subseqüentes permitirá que a renda per capita nacional chegue a US$ 1,7 mil até o final do 11º Programa Qüinqüenal (2006 - 2010). "A revitalização das zonas rurais e o equilíbrio na distribuição de renda entre os campos e as cidades são a chave para alcançarmos uma sociedade harmoniosa", preconiza Wen.

A transformação do modelo de crescimento nacional está na agenda do governo desde a adoção da política de abertura e reforma econômica. O problema é que, passados 26 anos, ele (o modelo de crescimento) ainda não se transformou, argumenta o economista Wu Jinglian, professor da China Europe International Bussines School de Shanghai. Conforme Wu, a exaustiva retórica oficial em torno da necessidade de contenção do ritmo de expansão do PIB para amenizar os impactos sociais, ambientais e energéticos no país ainda não se concretizou por causa do peso do Estado na economia nacional.

"O governo continua centralizando excessivamente a liberação de recursos, assim como mantém o PIB como um dos principais critérios de avaliação das gestões dos governos provinciais e locais."

INDICADORES A manutenção de altas taxas de crescimento, no entanto, exige muita energia. Neste primeiro trimestre, os chineses importaram 37,1 milhões de toneladas métricas de petróleo, com um avanço de 25,3% sobre o mesmo período de 2005. O índice de crescimento das importações também está muito acima da faixa entre 5,4% e 7% anunciada por técnicos do governo. Para os economistas chineses, as recentes altas podem provocar uma redução de 0,9% na taxa de expansão do PIB em 2006. Além disso, os estrangeiros investiram US$ 14,2 bilhões na China no 1º trimestre, com alta de 6% ante 2005. Segundo o governo, o resultado elevou para US$ 620 bilhões o total de investimentos internacionais no país nos últimos 27 anos.

Porém, apesar das incríveis taxas de crescimento e da expansão de 16,7% da produção industrial no primeiro trimestre deste ano ante idêntico período do ano passado, os centros urbanos chineses deverão conviver com uma legião de 14 milhões de desempregados em 2006.