Título: Compadre de Lula nega ter participado de caixa 2 do PT
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2006, Nacional, p. A10

Defesa de Roberto Teixeira não convence oposição

Compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o advogado Roberto Teixeira disse ontem na CPI dos Bingos que nunca participou de um suposto esquema de arrecadação de dinheiro nas prefeituras petistas para financiar o caixa 2 do partido. Dono da casa onde Lula morou por mais de 10 anos de graça, Teixeira foi acusado por Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de Finanças das prefeituras petistas de Campinas e São José dos Campos, de ter ligação com a empresa Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM), usada no esquema.

À CPI, ele apresentou certidão assinada pelo então presidente do PT, José Dirceu, em maio de 2000. Em duas laudas, Dirceu rejeitou o relatório da comissão - criada em 1997 no partido para apurar as denúncias de Venceslau -, assinado por três membros expressivos do PT - deputados Hélio Bicudo e José Eduardo Martins Cardozo e o economista Paul Singer - e defendeu a "inexistência de qualquer infração ética por parte do filiado Roberto Teixeira".

O argumento não convenceu a oposição. O senador José Jorge (PFL-PE) disse que ao chamar Dirceu de "chefe de uma organização criminosa", o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, reforçou a tese de que faltou a ele, já naquela ocasião, credibilidade para opinar sobre um típico caso de corrupção. "De certa maneira isso tira credibilidade de tudo o que o senhor Roberto Teixeira disse aqui", argumentou o senador. "É difícil acreditar que não estejamos diante de um jogo de cartas marcadas."

Para o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), o depoimento do compadre de Lula terminou confirmando o que Tarso Venceslau havia dito à CPI. "A certidão exibida aqui pelo doutor Roberto Teixeira tem a assinatura de José Dirceu, só que não dá para acredita que tal fato possa invalidar o trabalho de Hélio Bicudo, Paul Singer e do deputado José Eduardo Martins Cardozo", alegou.

Teixeira mostrou-se desinibido no depoimento. Disse ter orgulho de ser padrinho do filho caçula de Lula e ser o responsável por ter recorrido à Justiça para mudar o nome de seu compadre, incluindo o "Lula". Sobre a casa que cedeu de graça ao presidente, quando ele era sindicalista, disse que fez isso para fugir da legislação da época, que prejudicava o locatário em favor de quem alugava. Ninguém perguntou se o risco seria o mesmo se tivesse recebido o pagamento de aluguel de Lula.

Advogado de Transbrasil, Varig e Brasil Telecom, Teixeira não soube se defender da acusação de ter se valido de tráfico de influência por ter sido contratado por estas empresa pouco antes ou depois de Lula ser eleito. "Não quero desqualificar o senhor como advogado, mas faço referência às incríveis coincidências que somente a amizade pode justificar", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "São conexões que nos ajudam a fazer determinadas ilações."

SUGESTÃO

Na tentativa de elevar Teixeira à condição de consultor político - e não de envolvido em irregularidades -, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) perguntou que recomendação ele faria ao PT. Antes de o advogado se manifestar, os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) se adiantaram nas sugestões: "Diga não roubem, meus amigos do PT, não roubem, não assaltem os cofres públicos", propôs Tasso. "Diria ainda , Lula saiba o que está acontecendo ao seu redor e fale para os seus ministros pararem de roubar", continuou. Na mesma linha, ACM atacou com a sugestão: "Fale, Lula, pare de dizer que não sabe de nada." O advogado disse que não se sentia em condições de propor nenhuma saída, a não ser dizer que "toda medida que vier no sentido da transparência é bem-vinda".