Título: Oito horas depois, as mesmas dúvidas
Autor: Luciana Nunes Leal, Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2006, Nacional, p. A4

Grande polêmica foi reunião de 23 de março na casa de Palocci

Foram quase oito horas de batalha na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, nas quais o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, conseguiu preservar o tom de voz seguro e uma boa linha de argumentação, mas isso não bastou para derrubar as dúvidas da oposição a respeito de suas atitudes nos 37 dias de crise.

A grande polêmica, na sessão de ontem da CCJ, foi a reunião do dia 23 de março na casa do ainda ministro da Fazenda Antonio Palocci (que cairia no dia 27). Bastos lá esteve para apresentar, ao anfitrião, seu amigo e advogado criminalista Arnaldo Malheiros.

Como a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa a essa altura era conhecida, a oposição viu na visita uma grave irregularidade: se Bastos já sabia do ilícito, teria agido como amigo de Palocci, não como ministro de Estado. Bastos insistiu que não sabia da violação do sigilo de Nildo na Caixa Econômica Federal e disse que se sentiu "no dever" de ajudar um amigo.

O ministro também não conseguiu ser convincente num segundo momento, ao ser indagado sobre a razão de a Polícia Federal ter indiciado o caseiro por lavagem de dinheiro, antes mesmo de investigar por que seu sigilo bancário tinha sido violado. "Para entrar no programa de proteção de testemunhas é preciso mostrar todos os documentos", disse ele, para explicar como as contas do caseiro se tornaram conhecidas.

LIGAÇÃO

Mais tarde, para justificar a visita de dois assessores seus - Daniel Goldberg e Cláudio Alencar - a Palocci, ele enfatizou a ligação direta, quase diária, entre a Secretaria de Direito Econômico (da Justiça) e áreas afins da Fazenda. No final, ele ainda foi cobrado pelo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) por mostrar muita cautela antes de acusar Palocci, e nenhuma ao denunciar a oposição "por manobras eleitoreiras" contra o governo.