Título: 'Vou depor', afirma, tranqüilo, ex-petista
Autor: João Domingos e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Nacional, p. A8

"Eu vou depor." Seco e educado, sem nenhum sinal de alteração emocional, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira confirmou que falará hoje à CPI dos Bingos, apesar do laudo médico apresentado por seus advogados ao Supremo Tribunal Federal que o define como vítima de depressão. Na ocasião, pouco antes de embarcar para Brasília no vôo 3542 da TAM, provavelmente ainda não sabia que seu pedido para adiar ou suspender o depoimento fora rejeitado pelo STF.

Embora abatido, nada no comportamento de Silvinho sugeria um desequilibrado. Mesmo ao reagir irritado ao assédio da imprensa, quando tentava deixar o aeroporto de Brasília, às 21h16. Cercado por fotógrafos e cinegrafistas, voltou para a área de retirada de bagagem e pediu proteção aos seguranças. Ele deixou o aeroporto, com a ajuda de funcionários da Infraero, incógnito. Antes da confusão, ouviu gritos de apoio - "É isso aí Silvio!", "Fala do Lula!" - de algumas pessoas que estavam no local.

O Estado acompanhou a viagem do ex-secretário-geral petista. Na sala de embarque do Aeroporto de Congonhas e mesmo durante o vôo, ninguém o abordou, apenas dois jornalistas. Poucas pessoas se deram conta de quem era. Quando os jornalistas o procuraram, ainda em São Paulo, foi cortês e apresentou seu irmão, única pessoa que o acompanhava. Na mão esquerda, usava uma tala. Ele teria se ferido durante uma crise nervosa, na quinta-feira passada, ao saber da publicação de sua "entrevista-bomba" no jornal O Globo.

"Boa noite", desconversou. "Bom trabalho, respeito o trabalho de vocês, sempre respeitei." Questionado pelos jornalistas outras vezes, repetiu apenas "boa noite".

Com 15 minutos de atraso, a aeronave A320 da TAM levantou vôo às 19h35. Silvio Pereira acomodou-se na terceira fileira, do lado direito. Uma das três poltronas ficou vaga, entre ele e o irmão.

Silvinho, como era chamado pelos antigos companheiros, dormiu ao longo de quase todo o vôo.

"Que tranqüilidade, não parece que ele teve uma crise nervosa", comentou uma passageira, sem que Pereira pudesse ouvir.