Título: Oposição se reúne e pede garantia de vida para Silvinho
Autor: João Domingos e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Nacional, p. A8

Pela primeira vez, cinco partidos de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiram atuar em conjunto para apontar corrupção no governo. PFL, PSDB, PDT, PPS e PV divulgaram ontem uma carta "ao povo brasileiro", na qual exigem garantias de vida para Silvio Pereira, o Silvinho, ex-secretário-geral do PT, e expressam solidariedade à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que na segunda-feira decidiu apresentar queixa-crime contra o presidente da República.

Dos partidos de oposição, só o PSOL não participou da reunião. Sua direção explicou que foi convidada para o encontro de presidentes das oposições, mas decidiu não comparecer porque considera que atua em outro campo ideológico. O PSOL alega que é o único que faz oposição ao presidente Lula pela esquerda. Portanto, a presidente do partido, senadora Heloisa Helena (AL), recusou-se a assinar a carta e se juntar a Jorge Bornhausen (PFL), Tasso Jereissati (PSDB), Osmar Dias (PDT), José Luiz Penna (PV) e Roberto Freire (PPS).

Os partidos de oposição afirmaram que, na avaliação deles, a entrevista do ex-secretário petista acrescentou fatos novos e graves ao processo de investigação. Deve, portanto, ser analisada e complementada com nova presença de Silvio Pereira em CPI - dessa vez, na dos Bingos. Com relação à notícia-crime, lembraram que a partir de agora o presidente Lula encontra-se na condição de réu.

Os cinco partidos de oposição afirmaram ainda que rejeitam toda possibilidade de artifícios legais para impedir que Silvio Pereira revele o que sabe. Comunicaram que, caso sejam insatisfatórios os dados revelados, a investigação pode evoluir para uma nova CPI, no Senado. Para eles, os "graves acontecimentos" envolvendo o governo devem ser objeto de investigações que "podem transcender a legislatura que se encerra em janeiro de 2007".

Por fim, os partidos de oposição acusaram parcela expressiva da Câmara de ser leniente com os acusados de envolvimento com o mensalão, livrando-os, na sua maioria, da cassação do mandato. Sendo assim, anunciaram, pretendem depois da audiência de Silvio Pereira se unir à sociedade numa comissão única, de parlamentares, juristas e cidadãos, com o objetivo de criar um Comitê da Cidadania. Esse comitê avançaria nas investigações e deixaria os documentos para as novas gerações de brasileiros que virão.

VIDA NOVA

Ontem mesmo, a ação da CPI dos Bingos para abrir nova frente de investigação, dessa vez sobre o valerioduto, começou a ultrapassar os limites do depoimento de Silvinho, marcado para hoje. O relator da comissão, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), assinou requerimentos pedindo a quebra dos sigilos telefônico, bancário e fiscal do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e a convocação do empresário Marcos Valério.

Garibaldi requereu também a quebra do sigilo do próprio Silvinho. Nos documentos, o relator não poupa o presidente da República: faz referência a "transações nebulosas" para pagamento de dívidas de Lula e de sua filha Lurian, honradas por Paulo Okamotto, presidente do Sebrae.

O mesmo texto é usado para justificar o pedido de quebra dos sigilos de Delúbio e Silvinho. A única diferença nos requerimentos, com 12 páginas ambos, é o nome do investigado. O relator diz ser fundamental cruzar dados sigilosos dos "coordenadores da campanha do presidente Lula em 2002" e cita entre eles Okamotto e os dois ex-dirigentes do PT. A quebra de sigilo do presidente do Sebrae já foi aprovada, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) impediu o acesso.

Garibaldi cita ainda como coordenadores os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci e o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e reproduz a denúncia contra eles feita pelo Ministério Público Federal.