Título: Detidos nos EUA mais 1.187 ilegais
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Metrópole, p. C6

Gerentes de empresa foram presos em operação feita em 26 Estados

Sob pressão da direita, o governo americano sinalizou um forte endurecimento no tratamento aos 12 milhões de imigrantes indocumentados no país, na quarta-feira, com uma operação policial realizada simultaneamente em 26 Estados. Foram presos 1.187 trabalhadores de uma mesma empresa e sete gerentes da companhia - a IFCO Systems North America, subsidiária de uma multinacional holandesa da área de logística de transportes que faturou US$ 576 milhões no ano passado. Ontem, cerca de 300 dos detidos já haviam sido deportados para o México.

O secretário da Defesa Interna, Michael Chertoff, disse que a operação marcou o início de uma nova estratégia do governo, que, em alguns casos, passará a tratar e combater a contratação de grandes grupos de imigrantes ilegais por empresas como uma forma de crime organizado. "Vamos identificar essas organizações, usar inteligência para definir seu escopo e empregar todos os instrumentos que temos, seja na Justiça criminal, seja nas leis sobre imigração, para reprimi-las com a maior dureza possível e quebrar essas organizações."

A operação contra a IFCO aconteceu dias antes de o Senado americano retomar a discussão sobre a reforma das leis de imigração, que divide o Congresso e o país. Em dezembro, a Câmara de Representantes aprovou um projeto de lei que transforma em criminosos e quem os protege e emprega. Em resposta, imigrantes ilegais e seus simpatizantes saíram às ruas em gigantescas manifestações, organizadas com apoio da Igreja católica, que revelaram capacidade insuspeitada de mobilização política e alteraram os termos do debate.

Um acordo bipartidário alcançado no Senado levou à aprovação, em comissão, de um projeto de lei que abre o caminho para que milhões de imigrantes em situação irregular possam se tornar residentes legais e, mais tarde, cidadãos americanos. Mas a proposta não chegou a ser votada em plenário e o debate deverá ser retomado a partir de segunda-feira, quando os parlamentares retornam de duas semanas de recesso.

As versões da reforma contempladas pela Câmara e pelo Senado são incompatíveis e dificilmente serão conciliadas num projeto aceitável por maiorias nas casas.

Uma lei de 1986 estipula multa de US$ 10 mil por trabalhador para empregadores que, conscientemente, contratarem ilegais. Mas a constante demanda por mão-de-obra em setores da agricultura, indústria e comércio fez com que a lei fosse aplicada apenas esporadicamente. Seu cumprimento, porém, vem aumentando. No ano passado, 127 pessoas foram condenadas por empregar imigrantes. Em 2004, esse número não havia chegado a 50. Os US$ 11 milhões em multas que a cadeia Wal-Mart pagou em 2005 por contratar imigrantes indocumentados ultrapassaram o total cobrado de todos os infratores no ano anterior.

Chertoff anunciou a contratação de 171 inspetores federais de empresas para reforçar o trabalho dos 325 já em ação. Também serão formadas 17 novas equipes de investigadores, elevando para 52 o total de times de agentes incumbidos de localizar, prender e expulsar dos Estados Unidos os 560 mil imigrantes que ignoraram ordens de deportação.