Título: Morales ameaça expulsar a EBX
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Economia & Negócios, p. B7

Siderúrgica de Eike Batista é acusada pelo governo boliviano de violar a Constituição e as leis ambientais

O presidente da Bolívia, Evo Morales, ameaçou ontem expulsar a empresa de siderurgia brasileira EBX caso ela não deixe o país espontaneamente. A siderúrgica é acusada de transgredir a Constituição e as leis ambientais bolivianas. "A EBX só tem dois caminhos: abandonar voluntariamente ou ser expulsa pelo governo nacional."

Ele disse, há três meses, assumiu o governo "para fazer com que a dignidade dos bolivianos seja respeitada" e prometeu que em todos os momentos "vai fazer com que o território nacional seja respeitado".

O clima de tensão envolvendo a empresa do brasileiro Eike Batista começou terça-feira quando três ministros bolivianos foram feitos reféns na cidade de Puerto Suárez, divisa com Corumbá, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. A ação fez parte de protesto pelo embargo das obras da EBX. Já foram demitidos 680 trabalhadores por causa da suspensão das obras. Os ministros foram libertados no dia seguinte e à noite foi decretado um "paro cívico" (paralisação cívica) que ameaçava até mesmo interromper o fornecimento de gás para o Brasil.

No início da tarde, a informação que se tinha era de que o governo estava disposto a negociar e teria acertado uma série de reuniões com representantes dos comitês cívicos e os prefeitos de todos os departamentos da Bolívia ( equivalentes aos Estados no Brasil) a partir de hoje, em La Paz, em busca de um acordo.

É grande a tensão política na Bolívia. Há uma divisão entre a população da parte oriental, formada basicamente por moradores do Departamento de Santa Cruz, e o Altiplano, na parte ocidental do País. Esta de onde o ex-cocaleiro Morales se tornou líder.

A suposta disposição de Evo de negociar, após um encontro com o presidente do Comitê de Santa Cruz, significou um recuo e esfriou os ânimos da Província de Germán Busch, onde o movimento grevista foi iniciado. O "paro cívico" que interrompeu o tráfego em rodovias e ferrovias, além de fechar comércio, bancos e instituições públicas, foi suspenso no final da tarde de ontem, após uma reunião dos líderes locais. As declarações de Morales sobre a disposição de expulsar a EBX não era de conhecimento dos líderes.

Por isso, todas as barricadas foram retiradas, embora esteja mantido o estado de prontidão. "Vamos acompanhar as negociações que ocorrerão a partir de agora, vamos suspender o paro até quarta-feira e observar se as reivindicações serão atendidas", disse Edgar Hurtado, presidente do Comitê Cívico de Puerto Quijarro.

Segundo ele, a decisão foi tomada depois que tiveram a garantia do presidente do Comitê de Santa Cruz, Herman Antelo, de que o governo aceitara negociar a situação da siderúrgica EBX e o andamento da licitação da jazida de Mutún. Antelo disse que a prioridade é o acordo para iniciar a exploração da jazida.

Ele admitiu que a declaração de Morales sobre a EBX pode reacender o conflito, mas prefere esperar o andamento das negociações.

A Província de Germán Busch, formada pelas cidades de Puerto Suárez, Puerto Quijarro e El Carmen Rivero Torrez, refuta a política intervencionista do governo, que, segundo ela, dificulta investimentos privados. Ela acha que esta atitude tem impedido o desenvolvimento da região.

Os líderes da região esperam que Moraleso discuta essa política. O governo boliviano terá de dar sinais claros de que mudará o comportamento se quiser iniciar um processo de apaziguamento do país. Isso não parece que irá acontecer se as declarações de Morales sobre a EBX forem postas em prática.

Até a quinta-feira, os comitês cívicos rebelados (instituição de representação civil, como associações de bairros - entretanto muito mais fortes politicamente) não admitiam a interrupção do movimento sem o cumprimento integral das reivindicações. Mas voltaram atrás.