Título: Concorrente ameaça ir à Justiça se não houver licitação
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Nacional, p. A14

Com a suposta preferência da FAB pelo avião da espanhola Casa, para substituir o Bandeirante, o mercado se agita. A russo-polonesa PZL Skytruck, que fabrica o turboélice M-28, diz se sentir preterida e ameaça ir à Justiça caso não haja licitação ou se houver indício de concorrência dirigida. "Quero o direito de concorrer sem que ninguém tenha privilégios", diz o representante da fabricante no Brasil, Magno da Costa Ferreira.

No ano passado, a pedido da Força Aérea, a Skytruck fez uma cotação para 76 aviões, em diferentes configurações, e chegou a um preço médio de US$ 416 milhões pelo lote. A empresa disponibilizou um avião para testes realizados em Manaus. Ao longo de quatro dias, foram simuladas operações típicas da região amazônica. Quando a FAB decidiu por fabricar o avião no Brasil, a Skytruck também foi consultada. "Em dezembro do ano passado manifestamos nosso interesse em fazer uma parceria para instalar uma fábrica do avião no Brasil, que serviria para abastecer a FAB e, também, como plataforma de exportação futura para as Américas", afirma Ferreira. Ele reclama, porém, que a proposta de construção de fábrica foi rejeitada pela FAB.

Para demonstrar a eficiência de seu equipamento, Ferreira exibe o relatório do grupo de trabalho do 7º Comando Aéreo Regional, que avaliou o M-28 em Manaus e chegou à conclusão de que se trata de um avião "com características superiores" ao Bandeirante. O M-28 transporta, em média, 70% a mais de carga, apesar de possuir autonomia de vôo ligeiramente inferior.

Na comparação com o Casa, o Skytruck tem capacidade de carga (peso máximo de decolagem) inferior. O Casa também ganha em autonomia de vôo em 500 quilômetros. Mas, enquanto o modelo básico do Casa começa em US$ 8 milhões, segundo dados extra-oficiais, o Skytruck custa a partir de US$ 4,7 milhões.

O governo brasileiro já é cliente da Eads Casa. No ano passado, firmou um contrato de US$ 700 milhões para a aquisição de 12 aviões cargueiros, o C-295, e para a modernização de 8 aeronaves P-3 Orion, de patrulha marítima, além de outros serviços e equipamentos militares. Os C-295, que substituirão os velhos Búfalos C-115, americanos, estão em fabricação e começam a ser entregues até o fim do ano. O acordo tem como contrapartida a encomenda local de componentes, transferência não especificada de tecnologias, treinamento de pessoal de manutenção, investimentos em parcerias e "ampla colaboração com o Centro Técnico Aeroespacial (CTA)".

Ao todo, 16 empresas do complexo industrial aeronáutico do Vale do Paraíba estão envolvidas no programa.

A Eads é acionista da Embraer e possui, com outros três fabricantes europeus, 7,5% das ações negociadas na Bovespa, que representam 19,2% do total.