Título: ONU fará nova proposta ao Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Internacional, p. A15

Diante do impasse no Conselho de Segurança da ONU sobre a crise iraniana, os membros permanentes (Rússia, China, França, Grã-Bretanha e EUA) pretendem apresentar ao Irã duas opções, segundo diplomatas na ONU: ou aceita negociar um pacote de benefícios econômicos para desistir do processo de enriquecimento de urânio ou será submetido a sanções. Os incentivos estariam relacionados ao uso civil da energia nuclear.

Em meio às negociações no Conselho, na segunda-feira o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, enviou uma carta ao presidente dos EUA, George W. Bush - na primeira vez que um chefe de Estado do Irã entra em contato direto com um líder dos EUA desde a Revolução Islâmica (1979). A Casa Branca considerou que a carta, de 18 páginas (ler trechos ao lado), não trazia nenhuma proposta e informou que Bush não vai responder por escrito.

O Conselho teme que os iranianos queiram dominar o processo de enriquecimento de urânio, em fase inicial, para produzir armas nucleares. Essa suspeita surgiu depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da ONU, descobriu em 2003 que o Irã ocultou por muitos anos instalações nucleares.

O governo iraniano sustenta que seu programa nuclear tem finalidade pacífica, para produção de energia elétrica.

A proposta conciliadora partiu da França, Grã-Bretanha e Alemanha - o chamado EU-3 - , depois que numa reunião de chanceleres de países do Conselho de Segurança, na segunda-feira, Rússia e China se recusaram a aprovar uma resolução, de caráter obrigatório, que abria caminho a sanções ou mesmo ação militar se o Irã a descumprisse. A rejeição dos russos e chineses é um revés especialmente para os EUA, defensores de medidas duras contra o Irã. O Conselho tem 15 membros, mas os permanentes, como Rússia e China, têm direito a vetar decisões.

A idéia agora é concluir segunda-feira, numa reunião em Bruxelas, o esboço da proposta de incentivos, tendo como contrapartida a advertência de sanções. Segundo a Associated Press, seria também estabelecido um compromisso entre os membros permanentes: se a negociação sobre benefícios não vingar, aprovariam uma resolução em termos duros.

Nos últimos dois anos, durante reuniões em separado com o Irã, o EU-3 negociou, sem sucesso, a oferta de benefícios. A diferença, agora, é que Rússia, China e EUA estariam comprometidos com o pacote e a pressão sobre o Irã é bem maior.

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, enfatizou que a proposta "não poderá ser um substituto para uma forte mensagem do Conselho ao Irã, de que seu comportamento é inaceitável e precisa retornar à mesa de negociações". Bush, afirmou que a "diplomacia é a melhor opção" a curto prazo para solucionar a crise com o Irã.